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Leio relato dos Médicos Sem Fronteiras, o suficiente para formular a questão trazida no título do texto. Desta vez, a meritória organização não-governamental trata de uma guerra que, talvez por ocorrer na África, não desperta a indignação que outros conflitos atraem. Ou os 50 milhões de habitantes do Sudão serão deixados morrer à mingua, ou o controle sobre as riquezas do país já estão devidamente entregues aos grupos de sempre, onde quer que haja o que explorar. As Forças Armadas Sudanesas e as Forças Militares de Apoio Rápido combatem há um ano, sem que repercutam no Mundo as consequências desse conflito - apenas mais um de tantos que simultaneamente consomem vidas em escala impossível de admitir. Já se contam aos milhões os refugiados, e alcançam estimados 50% da população total os que precisam de ajuda humanitária urgente. Como aconteceu durante a pandemia no Brasil, há governos locais que rejeitam até a prestação de serviços de assistência humanitária às populações sudanesas, como é o caso das cidades de Cartum, Darfur e Al Jazirah. Conduta apenas ampliada, diferente apenas na escala, como a ocorrida em terras brasileiras, durante a matança promovida pela covid-19. Mas não só por ela. Outras cidades, até onde chega algum tipo de assistência - o caso de Nilo Branco, Nilo Azul, Kassala e Gedaref - a ajuda vem sendo considerada "uma gota no oceano". Não há como esquecer o relato de Svetlana Alek

siévitch, As últimas testemunhas.* Essa obra, que rendeu o Prêmio Nobel de Literatura à jornalista e escritora ucraniana em 2015, traz a memória de sobreviventes da Segunda Grande Guerra, quando eram crianças. Se o depoimento de Khadija Mohammad (25 anos), Khartouma (?), William Jokite (19) e Chira Casah (24) for aproveitado em livro, quem sabe novo prêmio seja ganho pelo respectivo autor? Aí, então, quem sabe os interessados na extinção (ou mais transparente escravização) dos sudaneses terem chegado ao seu verdadeiro objetivo. O que têm a dizer os autoproclamados homens de bem, cujos valores humanitários se rendem a interesses que nada têm de humanos?

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*Nada é (nem será) tão feio (Editora Scortecci, São Paulo, 2022) do editor deste blog, contém poemas cuja fonte são os depoimentos colhidos por Svetlana.


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Patrick Sabatier é Diretor de Relações Corporativas da L'Oréal do Brasil e Presidente da Câmara de Comércio França-Brasil, no Rio de Janeiro. Em artigo publicado em O Globo (27/abr/2024, p.3), com a autoridade e a sensibilidade de quem cresceu no País, ele tece comentários a propósito da crise haitiana. Faz interessante retrospecto da história daquela ilha na América Central, a primeira a tornar-se independente e a que aboliu a escravidão no Novo Mundo. Vale a pena ler o que Sabatier diz.

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Para ficarmos próximos da República, ainda há muitos passos a percorrer. Um deles, deixar de dar nome de parentes ou amigos a prédios públicos, sem que se aponte uma só iniciativa do(a) homenageado(a) que de alguma forma tenha beneficiado a sociedade. Respeito e reverência são devidos a todos; reconhecimento público, não.

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