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Desde a instauração da República, lá se vão 136 anos, os brasileiros de boa índole e valores realmente humanos esperavam chegarmos à democracia. Não aquela orientada e inspirada pela Pax romana, mas a que corresponderia a ideais mais próximos do lema empunhado pelos revolucionários de 1789 – liberdade, igualdade, fraternidade. A fase iniciada em 1930, golpista como o fora a própria queda do Império, desembocou no Estado Novo, versão tupiniquim do modelo implantado na Alemanha.  A derrota militar do nazifascismo, todavia, não foi completada no plano político. Ao contrário, as ideias e os ideais de que Adolpho Hitler se fez porta-voz permaneceram, com grau de latência variável, na maioria das nações ocidentais. Longo período de experiências golpistas varreu o mundo, em especial porque as lideranças militares fortalecidas pela vitória das armas foram atraídas pelo ideário que alegavam combater. Daí a sequência e o espraiamento de golpes de estado em quase toda a América, geralmente pressionada pela potência cujos sucessivos governantes viram chegada a hora de fazê-la a sede do novo império. Facilitou a consumação desse propósito, a proclamação de um dos pioneiros, que desejou ver a América para os americanos. A doutrina Monroe, como a História o registra, continua a orientar a política exterior dos Estados Unidos da América do Norte, pela impossibilidade de esquecer a aventura do Enola Gay. Esse o nome do avião que despejou as bombas atômicas norte-americanas sobre as populações indefesas de Nagasaki e Hiroshima. Não mais a espada de Dâmocles, porque a fissão do átomo opera melhor. As prédicas dos filósofos gregos, por mais que divulgadas e ouvidas, não repercutiram nos quartéis, tanto quanto os entusiásticos acenos das práticas dos césares conquistadores e senhores da guerra. Daí ser necessário destacar o atual momento, raro sobretudo pelo absoluto respeito ao que a ordem jurídica e o melhor Direito chamam devido processo legal. É certo que outras nações da América do Sul anteciparam-se ao Brasil, a maior delas, na cobrança e punição dos que entregam às armas o vil papel de extintor de conflitos sociais. O fogo, ao invés do argumento; a força, ao contrário da Política, só agora chegam às barras dos tribunais. Agradeço pouco à maioria dos brasileiros ver membros de sua elite militar privados de sua liberdade.Desagrada ainda mais a eventual permanência dos que se tendem e entregam à defesa dos interesses que nada têm a ver com os mais justos, legítimos e humanos anseios dos brasileiros. Esse, porém, é crime que ainda está por apurar  

 
 
 

Em 7 de dezembro de 1967, o Superior Tribunal Militar julgou processos que envolviam brasileiros que se opuseram ao golpe empresarial-militar de 1964. Quase todos foram absolvidos, reconhecida a legitimidade de sua resistência àquela agressão à democracia. O editor deste blog foi um, das dezenas de beneficiafos com o habras-corpus unanimemente concedido. Do plenário daquela corte participavam, dentre outros, os oficiais-generais Ernesto Geisel, Peri Beviláqua, Rademaker Grünewald, Grum Moss, Olímpio Mourão Filho e outros, além de cinco ministros civis. Lembre-se que o então Presidente daquela corte, Mourão Filho, foi o militar que precipitou o golpe de 1964, deslocando suas tropas de Juiz de Fora. O AI-5, mais tarde estimulador da tortura e do assassinato de tantos democratas, ainda não fora decretado. Foi, portanto, obedecida a legislação em vigor, como se pode esperar

a sujeição da maioria dos atuais membros do STF às disposições constitucionais e legais ora vigentes. Há quem preveja a negativa da cassação das patentes, com a reiteração de prática assaz conhecida no ambiente castrense. A rigor, dela acabou resultando o processo que levou à condenação por completar na justiça especializada, de que o STM é a instância máxima. O corporativismo pode calar-se, levando à cassação das patentes, sobretudo pela responsabilidade das forças armadas na defesa da soberania e do território. Tanto quanto se sabe, em relação à soberania, outra coisa não tem feito um dos filhos do principal condenado, que incitar governo estrangeiro a agredir o Brasil e constranger sua população. Com financiamento do próprio pai, ninguém ignora isso. Se a falta de dignidade é suficiente para excluir das forças quem não a ostenta, a volumosa prova dos delitos praticados é suficiente e vigorosa. Sem esquecer quanto todos - os condenados e os brasileiros - teríamos ganho, se a exclusão do indigno-mor ocorresse na primeira manifestação de sua indiscutível vocação para o crime. Os autos, de ontem e de hoje, dizem mais.

 
 
 

Começam a ser digeridos os resultados da COP30, ao sabor dos interesses e dos preconceitos vigentes, no mercado e até onde ele se faça senhor. O Estado de São Paulo chega a ser comedido em seu editorial de 26-11, ainda que respeitadas as linhas que se propõe obedecer. Trata da verdade, com os vieses conhecidos, os interesses de uns sendo defendidos, ainda que em detrimento do que possa interessar à grande maioria dos contemporâneos. Reconhece a necessidade de haver alteração nos processos que garantem a energia, como se essa fosse uma questão isenta e à parte do ambiente desigual em que vivemos. Não será demasiado lembrar, por mais repetido, que um acidente de trânsito ocorrido em um cruzamento de duas vias terá, no mínimo, quatro interpretações diferentes. Porque o ponto de vista do qual cada um dos observadores o verá, será por definição, diferente. Na questão de fundo – a substituição das fontes responsáveis pela degradação da vida no Planeta -, só não há unanimidade porque a desigualdade criada e mantida de forma racional e planejada impede que assim o seja. Por isso, a aparência imediata leva a crer que o desaparecimento da Terra é rejeitado por todos. Difícil imaginar que os grandes e lucrativos negócios resultantes da exploração das fontes – chamemo-las assim, por analogia invertida – sujas, desejem realmente ver alterada a matriz energética em uso, aqui e alhures. Afinal, é do desencontro desses interesses que surge qualquer questão. Também é destacável no pronunciamento do jornalão, a inspiração utópica dos organizadores e executores da importante reunião. Nesse caso, o pragmatismo é a resposta preferida e dada, tudo segundo a lógica do mercado. O cerne da questão, a desigualdade e o que ela proporciona em acumulação de capital, é deixado de lado. A suposta Verdade, então, torna-se inalcançável. Exatamente por seu caráter inverídico, posto de lado na análise das motivações versus resultados da COP30. Mais do que compreensível e tolerável, é plausível entender o fenômeno – seja ele qual for – a partir das premissas sobre as quais se baseiam as conclusões e análises. Se há negligência com alguma variável, sobretudo quando ela dispensa mecanismos e sabedoria acima da compreensão humana, a tal Verdade estará originariamente comprometida. Nem se precisaria dizer que os avanços também reconhecidos pelo editorial do Estado de São Paulo, se não trazem a resposta desejada pela maioria, representam e exigem a necessidade de avançar-se cada dia mais no sentido de substituir, finalmente, a matriz energética pelo que se tem chamado energia limpa. Ao editorialista talvez nunca tenha ocorrido cogitar que a utopia é apenas o lugar a que ainda não chegamos. Talvez conhecer um pouco mais de Leonardo da Vinci e outros que souberam antever o futuro deva constituir preocupação urgente de todos os pretensos e reais analistas. Isso, certamente, não bastará à superação dos interesses em jogo, mas não há outro caminho, ainda que não se trate de algo tão trivial como parece. Sem utopia, estejamos certos, não haverá futuro.

 
 
 
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