Utopia – um bem necessário
- Professor Seráfico

- há 23 horas
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Começam a ser digeridos os resultados da COP30, ao sabor dos interesses e dos preconceitos vigentes, no mercado e até onde ele se faça senhor. O Estado de São Paulo chega a ser comedido em seu editorial de 26-11, ainda que respeitadas as linhas que se propõe obedecer. Trata da verdade, com os vieses conhecidos, os interesses de uns sendo defendidos, ainda que em detrimento do que possa interessar à grande maioria dos contemporâneos. Reconhece a necessidade de haver alteração nos processos que garantem a energia, como se essa fosse uma questão isenta e à parte do ambiente desigual em que vivemos. Não será demasiado lembrar, por mais repetido, que um acidente de trânsito ocorrido em um cruzamento de duas vias terá, no mínimo, quatro interpretações diferentes. Porque o ponto de vista do qual cada um dos observadores o verá, será por definição, diferente. Na questão de fundo – a substituição das fontes responsáveis pela degradação da vida no Planeta -, só não há unanimidade porque a desigualdade criada e mantida de forma racional e planejada impede que assim o seja. Por isso, a aparência imediata leva a crer que o desaparecimento da Terra é rejeitado por todos. Difícil imaginar que os grandes e lucrativos negócios resultantes da exploração das fontes – chamemo-las assim, por analogia invertida – sujas, desejem realmente ver alterada a matriz energética em uso, aqui e alhures. Afinal, é do desencontro desses interesses que surge qualquer questão. Também é destacável no pronunciamento do jornalão, a inspiração utópica dos organizadores e executores da importante reunião. Nesse caso, o pragmatismo é a resposta preferida e dada, tudo segundo a lógica do mercado. O cerne da questão, a desigualdade e o que ela proporciona em acumulação de capital, é deixado de lado. A suposta Verdade, então, torna-se inalcançável. Exatamente por seu caráter inverídico, posto de lado na análise das motivações versus resultados da COP30. Mais do que compreensível e tolerável, é plausível entender o fenômeno – seja ele qual for – a partir das premissas sobre as quais se baseiam as conclusões e análises. Se há negligência com alguma variável, sobretudo quando ela dispensa mecanismos e sabedoria acima da compreensão humana, a tal Verdade estará originariamente comprometida. Nem se precisaria dizer que os avanços também reconhecidos pelo editorial do Estado de São Paulo, se não trazem a resposta desejada pela maioria, representam e exigem a necessidade de avançar-se cada dia mais no sentido de substituir, finalmente, a matriz energética pelo que se tem chamado energia limpa. Ao editorialista talvez nunca tenha ocorrido cogitar que a utopia é apenas o lugar a que ainda não chegamos. Talvez conhecer um pouco mais de Leonardo da Vinci e outros que souberam antever o futuro deva constituir preocupação urgente de todos os pretensos e reais analistas. Isso, certamente, não bastará à superação dos interesses em jogo, mas não há outro caminho, ainda que não se trate de algo tão trivial como parece. Sem utopia, estejamos certos, não haverá futuro.

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