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Não!

Não são burras

as bombas que

matam velhos

crianças mal-nascidas

filhos no colo

mãos ensandecidas

cabeças armadas

produzindo

mães despedaçadas

desprotegidas

solos de ninguém

mundo deixado a

construir

em iminente

além...


Não!

Não há balas perdidas

Perdem-se, sim!

necessárias e promissoras

vidas

desesperadas dissolvidas

esperanças em

acelerado

fim


Não!

Nem todos estamos

perdidos

há os que

remanescem contemplados

mesmo se recém-inseridos

corpos

imóveis

futuro paralisado

lágrimas morte dor

constituindo infeliz e trágico

achado.


Não!

Não é esse

o mundo com que

sonho

em sobressalto

apenas me entristeço

me envergonho

me dói saber

quanta força tem o

mal

então, proclamo

a plena voz

o que todos deveriam

tal e qual:

Não! Desses eu não quero

ser igual!


· Logo após ver imagens de novo ataque a alvo civil, na Ucrânia.


Manaus, 09-03-2022

 
 
 

Moisës Kadagambe

verso mais que nome

faz-se símbolo

ao reverso

sob o peso

de mãos infames


Congoleante

fragilizado

posto ao solo

o homem sente-se

fraco sem

norte

impossível entender

qual sentimento

o terá levado

à mais cruel

forma de morte


Assassinado

ali estava mais

um negro?

um estrangeiro

pobre refugiado

em busca de abrigo?

Ou apenas um trabalhador

em brusca perseguição

de trabalho e pão...

de um amigo?


Porque logo com eles

sobrevivo graças

ao serviço

nada servil

um dentre tantas

raças

encontrou o cemitério

teve a vida

entregue às traças

na profunda malvadeza

do Brasil


Não era isso

o que ele

procurava

trabalhar fazer amigos

e filhos

terra natal

renascer

distante embora

jamais antecipar

longe de casa

o que seria

sorrateira hora

No copo

espuma sedutora

de cerveja

o corpo no chão

destroçado

mãos dos matadores

força desumana

a espalhar horrores

índole insana

malfazeja

a muitos tenta mas

não mais engana

antes apavora

discrimina


egoísmo violência

impelidos por fúria

assassina

na mente cabedal

de indigência

como se donos

do território da

incúria

senhores

da hora derradeira.

Manaus, 09-02-2022

 
 
 

Morre o peixe pela

boca

ao alvorecer ou

à boca da noite


pela boca entra o

alimento

dela saem o vilipêndio

a sentença

a agressão

mesmo o açoite


do canhão

fumegante boca

parte o projétil

expressão

fatalidade terrível

em fúria louca


palavra que maltrata

censura às vezes

indizível

aturde e destrata

espanca

desacata

esperança se esvai

também é da boca

que o projétil

sai


guardemos

nossas bocas enquanto

limpas

longe delas vitupério

sons insanos

todo ódio qualquer ira


afastemo-las do impropério

infensas e imunes

a toda mentira

como a voz

dos cemitérios


não a sujemos

por dizerem ou terem dito

sábio sendo ou ignaro

o que o diz

inspiração vinda de baixo

ou de cima

renunciemos à palavra

que venha da mais suja

rima



Manaus, 19.11.2021







 
 
 
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