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Dentre os jargões e clichês destes trágicos tempos, um tem chamado minha atenção. Eufemismo capaz de esconder os interesses, legítimos ou não, dos militantes por alguma causa, as lideranças (ou os influencers, se preferirem) e porta-vozes são identificadas pelo seu lugar de fala. Isso, se a uns confunde, a outros impede de enxergar com clareza as causas e os vínculos do orador a elas dedicado. Há, entretanto, fugas a essa tipificação, com frequência maior que a suspeitada pelos tipificadores. O ex-Presidente da Fundação Palmares e a multidão de pobres acampados na porta dos quartéis são exemplares. Agora, a frustração já faz muitos deles trocarem de lugar. E sua fala quase nada tem do discurso anterior. Não só em relação à preferência ideológica, mas também quanto às suas convicções econômicas. De bravos e intimoratos defensores da livre iniciativa, veem-na agora como insuficiente e incapaz de promover a retomada da economia, feita em frangalhos pelo (des)governo que apoiavam e incensavam sem o menor pudor. Como a revelar que poder e pudor jamais darão rima. Além da volubilidade e da mobilidade de onde se fala.

 
 
 

Se há ou havia liras tocando mais que a pauta da Câmara dos Deputados, nada posso afirmar. Se eram servidos banquetes como os que preparavam Marco Antônio para as refregas entre os lençóis, muito menos. Sei, porém, que o lema preferido datava de alguns séculos. Si vis pax, para belllum, aprendi nas aulas de latim do Colégio Estadual Paes de Carvalho, na década dos 1950. Eu, um adolescente; o colégio, sediado na mesma praça em que estava e permanece o Comando Militar do Norte. Ser da pax ou optar por bellum é coisa que pode dividir os homens (os seres humanos e os a ele assemelhados, diriam outros). Ao que se sabe, não houve um só dia, desde a que pensávamos seria a última grande guerra terminou, sem que houvesse algum conflito armado em algum lugar do Planeta. Para isso tem trabalhado boa parte do parque industrial espalhado pelo Mundo; a esse objetivo se tem dedicado numeroso contingente de políticos, com semelhante distribuição geográfica. Quem chamou o governo norte-americano de complexo industrial militar não fui eu, mas o Presidente Dwight Eisenhower - ele mesmo um general que combateu na Segunda Grande Guerra. Até um ano antes, era para a Síria que convergiam os olhares - dos produtores de armas, dos que não as produzindo delas tiram também proveito, dos dirigentes de países, dos representantes que se dizem do povo, de belicosos por índole, vocação, adestramento ou carentes em suas taras e obsessões. Também dos que desejam e lutam, como Quixotes extemporâneos ou temporões, por um pouco que seja de Paz. Hoje, os olhos - e, com eles, cobiças e ambições - do Mundo são levado a mirar a Ucrânia, território onde o governo dos Estados Unidos da América do Norte e seu braço longo e armado, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), decidiram travar mais uma guerra. Dizer dantescas as imagens que agridem nossos olhos e nossos sentimento seria muito pouco. Ao inferno levado ao povo ucraniano não chegou o que de poesia há em Dante Alighieri. O inferno literário jamais será como o inferno da guerra. Não obstante, há os que se dispõem a, corram o risco que correrem, buscar uma saída de que resulte o restabelecimento da Paz, se ela algum dia existiu. No conflito que Biden e Putin mantêm no país do Leste Europeu, o papel do Brasil pode ser determinante. Mais que isso, dignificante. Se a resposta das partes reciprocamente hostis aprovar a oferta do Tripresidente brasileiro. Lula expressamente se ofereceu para mediar a pendenga bélica. Os governos envolvidos parecem dispostos a levar a sério a oferta. No Brasil, há quem acredite que Luís Inácio Lula da Silva terá êxito - na assunção do encargo e no resultado de sua missão. Muitos já o veem como candidatíssimo ao Prêmio Nobel da Paz. Não seria dele o prêmio, se o ódio fosse o critério de escolha.

 
 
 

A chamada guerra da Ucrânia completa um ano e confirma a convicção de que a primeira vítima de qualquer guerra é a verdade. Neste caso, a primeira e permanente prejudicada. Mais graves e complexos que as ações estritamente bélicas são os interesses envolvidos no conflito. Em razão deles, há todo um jogo de bastidores e alegações que só aos tolos - ou desinformados ou mal intencionados - seduzem. Prevista inicialmente para durar alguns dias ou semanas, a guerra NA Ucrânia já atravessou seu primeiro ano. Ao longo dos últimos doze meses, foi ficando mais clara a configuração do conflito, tanto quanto tornada mais fácil a identificação dos verdadeiros protagonistas. Aqui e acolá são apontadas certas relações capazes de clarear o cenário, raramente levadas em conta pelos que se apresentam como especialistas no assunto. Além das relações internacionais, há outro tipo delas, como ainda ontem foi indicado. Refiro-me à informaçào de que Joe Biden tem todo interesse em manter a guerra, como compensação à retirada dos Estados Unidos da América do Norte do Afeganistão. A alternativa que o Presidente norte-americano encontrou para evitar o fracasso de sua pretendida reeleição. Se o conseguirá, ainda é cedo para afirmar. Não o é, porém, quanto à identificação dos verdadeiros contendores, a Rússia e os Estados Unidos da América do Norte e seu braço longo e armado, a OTAN. Deixado resolver segundo o princípio da soberania e da autodeterminação dos povos, com a participação de e intermediado por Estado ou um grupo deles sem interesse direto no conflito, dificilmente se teria estendido tanto a guerra de que a Ucrânia é o palco. O manifesto interesse de Wolodimir Zelensky na intermediação sugerida por Lula diz muito sobre isso.

 
 
 
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