Ainda não foi oficialmente aberto o inventário político do ex-Presidente, o derrotado fujão. Dado o tamanho do espólio, ninguém ignora quanto ele vem despertando o apetites de muitos dos que ganharam preeminência ou saíram das sombras à custa da liderança do evadido. Citam-se alguns, uns de voo mais baixo, outros que podem percorrer pelos ares mais que os espaços percorridos pelas galinhas. Não se descarta a presença, pelo menos no momento inicial da partilha, de pretendentes à herança que se satisfarão com uma prebenda irrisória. Cada qual há de saber os limites que o ata à mediocridade de sempre, ou ao interesse menor, que a migalha caída da mesa onde o banquete é servido satisfará. Restarão alguns, porém, nessa corrida como em tantas outras competições que o próprio sistema econômico defende, propaga e exige. Às vezes, a tragédia traz com ela circunstâncias construídas ao sabor dos tristes acontecimentos, não escapando sequer certos aspectos simbólicos nem sempre perceptíveis a olho nu. Refiro-me ao lamaçal que já engoliu meia centena de corpos, à hora em que redijo este texto. A visita do Presidente da República ao local da tragédia, no litoral paulista, as negociações mantidas com o governador Tarcísio Freitas e as providências do governo federal abrem enormes possibilidades e inauguram possivelmente uma nova fase de entendimento entre o poder central e as unidades federadas. Em especial, porque o governador do Estado de São Paulo não é reconhecido pelo fanático rebanho de seu quase ex-líder como um fiel de primeiro momento. Vez por outra, é lembrado o fato de que, sob o governo Dilma Rousseff, Tarcísio era membro do time de técnicos que viviam o dia-a-dia do Ministério da Presidente golpeada. Sem chiar, tugir ou mugir. A hora, não importa o volume de lama que soterrou parte dos moradores pobres do litoral Norte de São Paulo, pareceu propícia ao ex-Ministro da Infraestrutura. Durante a visita de Lula, os sinais emitidos por ambas as partes apontam mais, primeiro, na direção de trégua que não agrada às mais hostis das ovelhas do rebanho frustrado. Menos, ainda, ao seu acossado (pela Polícia, pela Justiça e, espera-se, pela Interpol, não demora) pastor. Pode consolidar-se a imagem de Tarcísio como um apolítico, mero burocrata disposto a servir a qualquer causa, sempre vestido da capa de servidor do Estado. Para ele, dadas as circunstâncias, a candidatura à herança parece mais fácil de sustentar-se. E ter êxito.
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Professor Seráfico - 1 de mar. de 2023
- 1 min de leitura
Dentre os jargões e clichês destes trágicos tempos, um tem chamado minha atenção. Eufemismo capaz de esconder os interesses, legítimos ou não, dos militantes por alguma causa, as lideranças (ou os influencers, se preferirem) e porta-vozes são identificadas pelo seu lugar de fala. Isso, se a uns confunde, a outros impede de enxergar com clareza as causas e os vínculos do orador a elas dedicado. Há, entretanto, fugas a essa tipificação, com frequência maior que a suspeitada pelos tipificadores. O ex-Presidente da Fundação Palmares e a multidão de pobres acampados na porta dos quartéis são exemplares. Agora, a frustração já faz muitos deles trocarem de lugar. E sua fala quase nada tem do discurso anterior. Não só em relação à preferência ideológica, mas também quanto às suas convicções econômicas. De bravos e intimoratos defensores da livre iniciativa, veem-na agora como insuficiente e incapaz de promover a retomada da economia, feita em frangalhos pelo (des)governo que apoiavam e incensavam sem o menor pudor. Como a revelar que poder e pudor jamais darão rima. Além da volubilidade e da mobilidade de onde se fala.
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Professor Seráfico - 28 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Se há ou havia liras tocando mais que a pauta da Câmara dos Deputados, nada posso afirmar. Se eram servidos banquetes como os que preparavam Marco Antônio para as refregas entre os lençóis, muito menos. Sei, porém, que o lema preferido datava de alguns séculos. Si vis pax, para belllum, aprendi nas aulas de latim do Colégio Estadual Paes de Carvalho, na década dos 1950. Eu, um adolescente; o colégio, sediado na mesma praça em que estava e permanece o Comando Militar do Norte. Ser da pax ou optar por bellum é coisa que pode dividir os homens (os seres humanos e os a ele assemelhados, diriam outros). Ao que se sabe, não houve um só dia, desde a que pensávamos seria a última grande guerra terminou, sem que houvesse algum conflito armado em algum lugar do Planeta. Para isso tem trabalhado boa parte do parque industrial espalhado pelo Mundo; a esse objetivo se tem dedicado numeroso contingente de políticos, com semelhante distribuição geográfica. Quem chamou o governo norte-americano de complexo industrial militar não fui eu, mas o Presidente Dwight Eisenhower - ele mesmo um general que combateu na Segunda Grande Guerra. Até um ano antes, era para a Síria que convergiam os olhares - dos produtores de armas, dos que não as produzindo delas tiram também proveito, dos dirigentes de países, dos representantes que se dizem do povo, de belicosos por índole, vocação, adestramento ou carentes em suas taras e obsessões. Também dos que desejam e lutam, como Quixotes extemporâneos ou temporões, por um pouco que seja de Paz. Hoje, os olhos - e, com eles, cobiças e ambições - do Mundo são levado a mirar a Ucrânia, território onde o governo dos Estados Unidos da América do Norte e seu braço longo e armado, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), decidiram travar mais uma guerra. Dizer dantescas as imagens que agridem nossos olhos e nossos sentimento seria muito pouco. Ao inferno levado ao povo ucraniano não chegou o que de poesia há em Dante Alighieri. O inferno literário jamais será como o inferno da guerra. Não obstante, há os que se dispõem a, corram o risco que correrem, buscar uma saída de que resulte o restabelecimento da Paz, se ela algum dia existiu. No conflito que Biden e Putin mantêm no país do Leste Europeu, o papel do Brasil pode ser determinante. Mais que isso, dignificante. Se a resposta das partes reciprocamente hostis aprovar a oferta do Tripresidente brasileiro. Lula expressamente se ofereceu para mediar a pendenga bélica. Os governos envolvidos parecem dispostos a levar a sério a oferta. No Brasil, há quem acredite que Luís Inácio Lula da Silva terá êxito - na assunção do encargo e no resultado de sua missão. Muitos já o veem como candidatíssimo ao Prêmio Nobel da Paz. Não seria dele o prêmio, se o ódio fosse o critério de escolha.
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