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Inventário, espólio e sucessão

Ainda não foi oficialmente aberto o inventário político do ex-Presidente, o derrotado fujão. Dado o tamanho do espólio, ninguém ignora quanto ele vem despertando o apetites de muitos dos que ganharam preeminência ou saíram das sombras à custa da liderança do evadido. Citam-se alguns, uns de voo mais baixo, outros que podem percorrer pelos ares mais que os espaços percorridos pelas galinhas. Não se descarta a presença, pelo menos no momento inicial da partilha, de pretendentes à herança que se satisfarão com uma prebenda irrisória. Cada qual há de saber os limites que o ata à mediocridade de sempre, ou ao interesse menor, que a migalha caída da mesa onde o banquete é servido satisfará. Restarão alguns, porém, nessa corrida como em tantas outras competições que o próprio sistema econômico defende, propaga e exige. Às vezes, a tragédia traz com ela circunstâncias construídas ao sabor dos tristes acontecimentos, não escapando sequer certos aspectos simbólicos nem sempre perceptíveis a olho nu. Refiro-me ao lamaçal que já engoliu meia centena de corpos, à hora em que redijo este texto. A visita do Presidente da República ao local da tragédia, no litoral paulista, as negociações mantidas com o governador Tarcísio Freitas e as providências do governo federal abrem enormes possibilidades e inauguram possivelmente uma nova fase de entendimento entre o poder central e as unidades federadas. Em especial, porque o governador do Estado de São Paulo não é reconhecido pelo fanático rebanho de seu quase ex-líder como um fiel de primeiro momento. Vez por outra, é lembrado o fato de que, sob o governo Dilma Rousseff, Tarcísio era membro do time de técnicos que viviam o dia-a-dia do Ministério da Presidente golpeada. Sem chiar, tugir ou mugir. A hora, não importa o volume de lama que soterrou parte dos moradores pobres do litoral Norte de São Paulo, pareceu propícia ao ex-Ministro da Infraestrutura. Durante a visita de Lula, os sinais emitidos por ambas as partes apontam mais, primeiro, na direção de trégua que não agrada às mais hostis das ovelhas do rebanho frustrado. Menos, ainda, ao seu acossado (pela Polícia, pela Justiça e, espera-se, pela Interpol, não demora) pastor. Pode consolidar-se a imagem de Tarcísio como um apolítico, mero burocrata disposto a servir a qualquer causa, sempre vestido da capa de servidor do Estado. Para ele, dadas as circunstâncias, a candidatura à herança parece mais fácil de sustentar-se. E ter êxito.

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