Menos que prova de extraordinária e desumana insensibilidade, ficar alheio ao sofrimento da população gaúcha, seria das mais graves e inaceitáveis reações. A solidariedade prestada pelos brasileiros de todas as regiões, longe de ser recriminada, deveria ser imitada e multiplicar-se. Não se pode confundir o povo com aqueles que transitoriamente passam pelos governos. É verdade que não há eleitos sem o voto desse mesmo povo. Isso não diz da impossibilidade de os eleitores se terem equivocado. Esta é possibilidade sempre presente, de que se aproveitam sobretudo os produtores e disseminadores de mentiras. Destes, sabe-se haver sobra. É oportuno e soa a advertência o texto assinado pelo jornalista Bernardo Mello Franco, da Folha de São Paulo, edição de 10-05-2024. "È preciso, sim, politizar a tragédia climática", diz o título da matéria. Nela, o articulista adverte para os riscos de a dor e o sofrimento dos afetados pelas enchentes, e a solidariedade prestada por grande parte da população brasileira fazerem submergir a necessária e oportuna responsabilização dos que têm concorrido para a ocorrência do fenômeno. As águas do Guaíba não causariam tanta desgraça, se tivessem sido atendidas recomendações técnicas elaboradas e apresentadas às autoridades, em várias oportunidades. Na contramão, essas mesmas autoridades não deram ouvidos às recomendações, além de emprestarem seu apoio às teses opostas. Não foram poucos os que aplaudiram a ordem de deixar a boiada passar, no período 2019-2022. Fora a região Nordeste, quase todas as outras tiveram a maioria dos que governaram a maioria dos respectivos estados engajados nas politicas determinadas pelo poder central. E, não faz uma semana ainda, o Congresso ratificou a orientação do governo anterior, multiplicando os riscos de experimentarmos tragédias sucessivas e ainda maiores que a do Rio Grande do Sul. Não é outra a direção da ampliação da área entregue aos desmatadores que constituem verdadeiro exército de predadores da natureza. Cada dia fica mais clara a índole dos que nos têm governado - servir às elites, elas mesmas servas dos piores valores que podem frequentar corações e mentes humanos. Repita-se, até que cresça o número de convertidos à boa causa: governos jamais erram; apenas escolhem os beneficiários de suas decisões.
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Professor Seráfico - há 4 dias
- 2 min de leitura
Frequentemente, o que não foi dito esclarece muito mais que milhões de palavras proferidas. Nem sempre é a palavra saída da boca dos protagonistas e de sua oratória inflamada que nos pode levar ao melhor juízo. A expressão silenciada, a frase muda que a expressão facial às vezes substitui, o olhar enviesado, o esgar pendurado no canto da boca, tudo isso pode ser tão eloquente quão esclarecedor. Quem assistiu, ao vivo ou nas telas da televisão, a inauguração de um conjunto popular em Maceió, na última sexta-feira, conferirá o que aqui registro. Talvez assim, a impressão de que as vaias recebidas pelo Presidente da Câmara criaram um clima de constrangimento e mal-estar para Lula, possam ser vistas sob outro ângulo. Que alguém, naquele palanque sincrético, saiu ganhando, não há dúvida. O ganhador não terá sido, ora pois, o deputado Arthur Lira. A indignação por ele mostrada equivale à sensação de que experimentava um revés. Nem se precisa levar o raciocínio por vieses quase absurdos. Seria quase despropositado afirmar que as vaias podem ter sido encomendadas pelo próprio Partido dos Trabalhadores. Apenas uma peça do cenário, adequada à generosa e oportuna intervenção de Lula. Logo depois do discurso de Lira, coube ao Presidente da República dirigir-se à numerosa plateia. Em sua oração, Lula deixou claro, sem precisar ser direto, que a cerimônia se justificava como referente a uma iniciativa do governo federal. Lira, ali, era um convidado. Isso ele disse. Menos que isso, um figurante. Isso Lula não disse. O bastante para trazer para seu governo o crédito devido à entrega de um conjunto habitacional. Ao mesmo tempo, a participação do Presidente da Câmara ficou suficientemente clara. Por isso, o dono da festa poderia exigir respeito ao seu convidado. Algo muito mais constrangedor para o alvo das vaias que a própria assoada dos presentes.
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Professor Seráfico - há 5 dias
- 2 min de leitura
Dizia Aristóteles que o homem é animal essencialmente politico. Deve-se entender essa percepção do filósofo grego como a síntese de condições de que só o ser humano dispõe, sobretudo a dependência absoluta de relações sociais características. Membro de um coletivo mais amplo, a sociedade, o homem teria, então, profundo senso de solidariedade e responsabilidade. A solidariedade tornaria mais fácil entender o outro e convencer-se de que só há homem porque há sociedade e só há sociedade porque o homem é capaz de construí-la. Para o bem ou para o mal, mas só ele tem consciência disso. Ou seja, dependemos uns dos outros, ainda mais quando nos cerca e condiciona nosso comportamento a especialização crescente de interesses e funções. A responsabilidade decorre da intenção (que nem todos revelam) de manter o equilíbrio em nossas relações - interpessoais, sociais e planetárias. Dizem os mais modernos que a Terra é o lar de todos os terráqueos. Quando falta a grande parte da sociedade humana de nossos dias a adequada compreensão da realidade, ocorrem fenômenos como o que abala a população do Rio Grande do Sul e comove todos os brasileiros. Não faltaram advertências, antes que o rio Guaíba desse mostra da insanidade e da irresponsabilidade dos governantes. Em especial os do próprio Estado sulino, eis que os especialistas puseram em suas mãos estudos criteriosos e preocupados com o futuro daquele estado. Não era bem isso o que eu me propus comentar, mas é impossível remover de nosso horizonte visual a tragédia que todos comentam. Na verdade, gostaria de mostrar reserva quanto à pretensão de impedir que políticos - é assim que estão em todo o noticiário - serão impedidos de ocupar postos políticos na administração de órgãos da administração pública. Uma providência que Aristóteles recusaria, como se um sacerdote ficasse proibido de exercer suas funções religiosas. Que e proíba a interferência partidária na condução dos negócios públicos, nada há de mais. Negar ao ser essencialmente político o exercício de atividades diretamente ligadas a essa característica não tem qualquer cabimento. É o viés partidário que compromete a atuação dos políticos, não o conteúdo gregário e associativo que se encontra arraigado e faz dele um ser humano. Não devemos olhar para as exceções, muitas delas negando até a condição humana de que é detentora a maioria dos integrantes das sociedades. Todas as sociedades.
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