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Dê-se o nome que se der a estes tristes e trágicos tempos, o menos que se pode dizer é serem caracterizados pelo absurdo. Talvez pela imaginação de Dürenmatt, Ibsen e Ionesco jamais tenham passado cenas e situações como as experimentadas pelos nossos contemporâneos. Nem aos formuladores da mais antiga democracia ou das mais modernas repúblicas ocorreria de imaginá-las. A realidade, pintada do mais absurdo surrealismo, poria perplexos Dali e Breton. Como assistir pacata e resignadamente a um Presidente da República que parece poder quase tudo, quando tem suas ideias e iniciativas cerceadas pela vontade de pequeno grupo de tecnocratas? Não é de outra coisa que se trata, quando a mais alta autoridade republicana há de curvar-se diante de um conselho que o impede de pôr em prática as ideias e propostas defendidas em campanha, como o exige o sistema eleitoral adequado à democracia. Não é outra coisa o que tem feito o COPOM, obediente à proposital parcialidade que o envolve, da qual resulta preocupação exclusiva com uma das tarefas que lhe são supostamente atribuídas. Fixar a taxa de juros, segundo o conceito e as práticas abraçadas pelos rentistas e os tecnocratas a eles rendidos, é quanto lhe basta! Buscar a garantia e a expansão de emprego nem lhes passa pela cabeça - viciada ou vendida, não se sabe ao certo. O que se sabe, porém, e disso cada dia mais gente se dá conta, é das restrições que as altíssimas taxas de juros impõem ao necessário e desejado desenvolvimento social e econômico. Como se não fôssemos marcados pela mais cruel desigualdade, o COPOM desfruta da soberania e, além disso, de força intimidatória, a opor-se a qualquer tentativa de romper o atraso mental e humano dos insensíveis. Há absurdo maior que esse?!

 
 
 

Infeliz, para dizer o minimo, a declaração de Lula a respeito do atentado planejado contra o ex-juiz Sérgio Moro e sua família. Seria compreensível admitir mágoas alimentadas pelo Presidente da República, em razão da parcialidade do ex-coordenador da Operação Lava Jato. Não teria sido fácil para qualquer ser humano ter tão celeremente apagados da memória os atos indignos praticados pelo hoje senador pelo Paraná. O mais perseguido e prejudicado inclusive em sua liberdade, não poderia perder de vista, contudo, pelo menos duas circunstâncias. A primeira delas, o afastamento do ex-magistrado de suas antigas funções, como resultado do conceito que a mais alta corte de justiça lhe atribuiu. O reconhecimento da parcialidade de Moro, se não apaga os muitos delitos de que ele foi o autor, pelo menos colocou-o sob suspeita diante de toda a população. A segunda circunstância refere-se à posição de Lula, ninguém menos que o Chefe de Estado brasileiro. Fossem feitas em reunião familiar e na presença de uns poucos amigos mais chegados, as declarações de Lula não gerariam o impacto que provocaram. Poderiam as pesadas palavras do Presidente ser levadas à conta de mero desabafo. Ditas em cena aberta e transmitidas para todo o País, elas se constituiram em uma agressão não só ao senador paranaense, mas desrespeito a todos os brasileiros. Não menos que a repetição de conduta de seu antecessor. Este, porém, nunca deu prova de ser possível conduzir-se com alguma educação ou moderação, tão falto de ambas e das mínimas condições tidas como humanas. O Presidente Lula, contudo, errou exatamente por ter sua condição de estadista reconhecida e festejada em nível planetário. Se não está afetado por algum mal que à Medicina cabe tratar, o Presidente por ele mesmo ainda pode estancar o processo que, caso não seja interrompido, pode pôr a perder seu antes promissor governo.

 
 
 

Certamente ato da maior gravidade que todos os demais, o registro na ata da mais recente reunião do COPOM agride o senso comum e o conhecimento de importantes estudiosos da Economia. Mais grave, ainda, é a agressão aos brasileiros, com todas as vicissitudes que a desigualdade impõe. Ao informar que a elevadíssima taxa de juros pode chegar a patamar ainda maior que o ora fixado (13,75%), o Conselho de Política Monetária não só desafia os poderes da república, pois comete imperdoável agressão ao povo brasileiro. Ao contrário da expectativa da maioria dos especialistas, a taxa não fol alterada para baixo. Pior que isso, a probabilidade de sua majoração sequer vem inscrita nas entrelinhas. Ela é explícita, com o que comprova de vez a inadmissihilidade da soberania do Banco Central e daquele Conselho, ambos sobrepostos à autoridade do Presidente da República, das duas Casas do Congresso e do Poder Judiciário. Pelo menos em termos de política econômica, financeira e monetária, a autoridade máxima se vê deslocada para o BCB e o COPOM. Por mais que alguém lembre certa similitude com o chamado gabinete paralelo, este não é tão danoso quanto a ostensiva hostilidade daqueles dois órgãos à vontade popular, de que o governo eleito é portador. Erros e acertos governamentais, em especial os que se relacionam ao combate à inflação e aos investimentos públicos não podem mais ser atribuídos ao poder central, mas àqueles órgãos, transformados em inimigos da República. Nunca é demais lembrar que metade do orçamento público nacional é destinado ao pagamento de dívida que, por mais que isso seja reivindicado, não se deixa auditar.

 
 
 
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