Para muita gente, a memória é coisa desprezível. A vulgarização de uma sentença (a memória é seletiva) acaba por provocar enorme esforço para só guardar os fatos agradáveis, como se isso bastasse para evitar males e prejuízos já experimentados. Antes, é bem o contrário. Pelo menos, o detentor de boa memória, ainda mais se há algum gosto pela História e os livros que tratam dela, muito pode beneficiar-se. Isso os priva da surpresa e, ao mesmo tempo, da decepção. Os que viveram o golpe de 1964 e suas consequências não têm como esquecer das atividades de duas organizações não governamentais - ONGs, portanto (embora estivessem de olho no poder), financiadas com farto financiamento vindo do exterior. Refiro-me ao Instituto de Projetos e Estudos Sociais - IPES e Instituto Brasileiro de Ação Democrático - IBAD. Enquanto o primeiro tratava de estudar os problemas brasileiros segundo viés ideológico avesso às reformas de base, o outro financiava candidaturas nas diversas instâncias do poder. Marcadamente, no Legislativo, desde as assembleias estaduais até o Senado. O papel dessas duas organizações foi determinante, na criação do clima que favoreceu a derrubada de João Goulart. Graças a esse clima, a OAB Nacional apoiou o golpe no primeiro momento, altas autoridades religiosas mobilizaram seus fiéis e as mulheres foram ceder seus anéis, na campanha Ouro para o bem do Brasil. Experiências que tais acabam nas delegacias de Polícia, e lá não foi diferente. As ruas foram tomadas de fervorosos"defensores" da democracia, marchando com Deus, pela liberdade. O resto, boa parte dos mais jovens se lembram, e se não se lembram, têm muito onde saber. Se gostam de ler e aprender. Tudo isso para dizer que os IBADS e IPEs deste 2023 têm nome de fantasia e se dedicam, dentre outras atividades, a promover a invasão de terras indígenas, financiar devastadores de florestas e poluidores de rios, além de explorar a mineração, o agronegócio desvirtuado e tudo que daí decorre. É o que saberão os visitantes deste blog, se forem à página ESPAÇO ABERTO, a partir de hoje. Lá encontrarão matéria interessante, se estão mesmo desejosos de conhecer seu país e sua gente. Os bons e os maus que a constituem.
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Professor Seráfico - 24 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Que outro nome se pode dar à principal causa da tragédia que, anualmente, mata e desaloja tanta gente, nas áreas de risco espalhadas por todo o Brasil? Antes, foi em Brumadinho, em Petrópolis, Manaus, Rio de Janeiro, agora na região litorânea do Norte de São Paulo. Claro, muitos outros e mais pesados adjetivos poderiam ser mencionados, mas, por caridade apenas, diremos tratar-se de uma das circunstâncias do crime culposo. Não há imperícia, porque sabemos impossível o erro dos que governam. Eles apenas escolhem os beneficiários de suas decisões; as vítimas, também. E com que competência o fazem! Igualmente, impossível considerar imprudência o que é antecedido de cálculos, contas feitas com os olhos postos nas polpudas verbas públicas, quem sabe muitas vezes disputadas literalmente aos tapas? A negligência, fruto das prioridades e das escolhas que as sucedem, é a mesma que sepultou quase 700 mil seres humanos, infectados pela covid-19. Neste caso, é certo, atraindo para junto dela propósitos, políticas, cumplicidade ativa ou omissiva, preconceitos, desvios de caráter e - sejamos francos - interesses que um século de sigilo não bastaram para sepultar junto com os mortos. Não há um só brasileiro que ignore as condições de habitabilidade de grande parte da população, em todos - eu me aproximei de escrever quase, mas seria inadequado, quando o Estado mais rico da Federação está em foco, é a bola da vez. Nas cidades, capitais ou não, os pobres pagam o desinteresse dos endinheirados e seus porta-vozes, servos e cúmplices, e se expõem periodicamente ao drama que agora se exibe no litoral paulista. Pior que tudo, envolvendo fenômenos naturais esperados, para cujo conhecimento e capacidade de previsão têm concorrido os maltratados cientistas brasileiros. A seca do Nordeste, o estio da região Sul, as enchentes da Amazônia, o desmoronamento reiterado nas cidades do Leste, o aquecimento do Cerrado - nada disso constitui imprevisto que não se possa evitar. Nem por isso se tem protegido a vida dos que ocupam esses lugares de cultivo da morte, transformando-os em viveiros (quanta ironia!) de experiência macabra, a que alguns - diga-se sem medo de errar - simplesmente dão de ombros. Em torno da tragédia, porém, sempre aparecem demonstrações de solidariedade e generosidade, logo e fartamente divulgadas. Os carrascos egoístas de ontem (e de todo dia) fazendo-se abnegados beneméritos. Os que ao longo da vida apropriam-se da dor alheia por alguns dias, certos de que permanecerão cultivando o macabro gosto que gerou a situação a que acorrem, portadores da máscara que desaba na hora e na quarta-feira de cinzas. Para que se carnaval acabe de fato, bastaria que os responsáveis políticos olhassem para os habitantes dessas áreas de risco com a presteza com que abrem as burras públicas à voracidade dos investidores na miséria e na fome - sempre dos outros.
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Professor Seráfico - 23 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Só a desonestidade, os interesses egoisticos ou perversidade extremada impedem identificar as diferenças entre o ex-Presidente fujão e o triPresidente que o sucede. A tragédia que as chuvas de domingo despejaram no litoral paulista pôs em relevo a índole, o caráter e a sensibilidade de um e outro. A comparação entre eles não é provocada por algum apoiador do atual Presidente, nem pelos meios de comunicação simpáticos a ele. A natureza se incumbiu de provocar o sopesamento das duas figuras, na forma como encaram as responsabilidades exigíveis e a resposta a problemas, cujas decisões e ações dizem respeito ao posto por ambos ocupado. É substancial e paradoxal a resposta, neste e no caso da covid-19, por exemplo. É verdade que à pandemia poderiam ser acrescentadas outras questões, frequentemente causadas por decisões, interesses e convicções do ex-Presidente. O extermínio das populações indígenas, o desmatamento da Amazônia, ao invés de combatidos, foram estimulados, apoiados, provocados, defendidos, não raro festejados, a partir do principal gabinete do Planalto. Importa agora, porém confrontar a presteza, a rapidez da resposta e a sensibilidade demonstrada por Lula, face ao descaso e à zombaria com que foram tratados a pandemia e a tragédia que já causou mais de quatro dezenas de mortes no litoral paulista. Imediatamente, o governo mobilizou os setores diretamente ligados ao fenômeno, emprestando ao governo estadual o auxílio que o fanfarrão que foge se negou a prestar. Lula, na segunda-feira, interrompeu seu recolhimento durante o período de carnaval, para visitar a área atingida e as vítimas. Seu antecessor, pode-se apostar com segurança, lamentaria tão pouca gente morta, diante do que seu (des)governo produziu, durante a pandemia. Só não vê isso quem tem cabeça e coração iguais ao de seu líder e objeto de adoração. Eles se merecem.
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