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Ingenuidade e esperança

Ouvi certa vez dizer que o indivíduo feliz só o é porque totalmente desinformado. Tamanha é a tragédia de que nem todos se apercebem, há quem dela gargalhe, enquanto cresce o número dos mortos pela ação das forças da natureza ou pela ação humana - em grande medida, cuidadosamente planejada. Se desejássemos exemplificar com fatos, a covid-19 e a enxurrada no litoral paulista dariam trágica e contundente ilustração. Há, todavia, os muitíssimo bem-informados que, serenos e esperançosos, acreditam que nem tudo está perdido. Um deles, o jornalista Fernando Gabeira, cuja serenidade o faz assemelhar-se a um monge tibetano. Só na aparência o autor de O que é isso, companheiro? é um homem despreocupado. Também dele não se pode dizer dotado do alheamento de que são portadores muitos dos que se arvoram a líderes de determinados segmentos sociais. Gabeira, creio que todos sabem, participou ativamente da resistência à ditadura instaurada em 1964. Envolveu-se em ações de guerrilha urbana e foi banido do País. Depois que voltou, exerceu mandato de deputado federal e escolheu os problemas ambientais como base de sua atuação parlamentar. Desencantado com a política, presumo, mergulhou por inteiro no jornalismo, atividade na qual tem oferecido aos brasileiros a oportunidade de saber mais sobre sua terra e sua gente. Dotado da ironia própria dos inteligentes (no sentido antigo desse vocábulo, um dos mais conspurcados destes tenebrosos tempos que vivemos), o ex-deputado do Partido Verde é objeto da admiração dos seus pares, nos programas que a Globo News faz entrar em nossas salas. Precisão quase cirúrgica, quando ele comenta sobre os mais diversos aspectos de nossa triste realidade, é como se um bisturi rasgasse o ventre da sociedade brasileira e pusesse à mostra os líquidos purulentos e infectados nela depositados. No máximo, percebe-se no canto da boca do jornalista um esgar irônico, a despeito disso extremamente discreto e elegante. Pois é esse Gabeira, muitíssimo bem-informado, competente na escrita, arguto na observação, irônico por excelência e respeitado por seus pares, quem nos dá a lição que todos precisamos aprender: a ingenuidade, em grande medida e no momento oportuno revelada, é que alimenta a esperança dos que realmente têm boa fé. Um ser humano de bem com a Vida. Nada mais!

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