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Sem inteligência e sem prazer

Uma das alegações ligadas ao desenvolvimento tecnológico tem sido a liberação do tempo das pessoas para dedicar-se ao lazer, aos esportes, ao exercício religioso ou, no extremo, ao simples ócio. Este, em grande parte responsável pelo substancial legado dos filósofos, desde a Antiguidade mais remota. Com Bertrand Russell, fomos advertidos de quão saudável seria a sociedade, se o ócio passasse a ser visto como um dos exercícios mais favoráveis aos seres humanos, enquanto tais. É disso que trata, em síntese, O elogio do ócio, que o filósofo britânico escreveu, faz perto de cem anos. Domenico Demasi, com seu O ócio criativo, trouxe de volta o tema, dentre outros autores enfastiados com as diversas formas de alienação e de desumanização (demonização talvez não fosse exagerado dizer) a que vem sendo exposta a sociedade. Aqui e acolá - mais lá - sabe-se de algumas tentativas de deixar ao homem, o trabalhador em especial, tempo que possa ser usado para o prazer inteligente. Algo que o poeta e humanista (et por cause) Paes Loureiro chama dibubuio. Aquele abandono de qualquer atividade prática, que permite ao caboclo ribeirinho deixar-se levar, a bordo de uma canoa aparentemente à deriva, ou em profunda reflexão sentado à beira do rio. Sem sequer alguma vez ter ouvido falar dos filósofos gregos e dos que ao longo dos séculos se fizeram seus seguidores. Pois da França de Montaigne, Voltaire, Diderot, Sartre, Molière e tantos mais símiles, vem a notícia. Emmanuel Macron, o Presidente, pretende reduzir ainda mais o tempo de bubuio dos trabalhadores. Quanto mais avança a tecnologia, menor a probabilidade de ela tornar humanas as relações entre patrões e empregados. Quanto mais tempo propícia ao ócio do capital, a tecnologia menos tempo destina ao prazer inteligente dos que suam a camisa. Assim, à deriva segue o Mundo. Só não se sabe para onde. Que o evangelista João não nos ouça!!!

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