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Dependências reservadas às negociações, na COP 30, foram invadidas. Essa tem sido razão suficiente para críticas de todo teor, sobretudo ao governo do Estado do Pará e ao governo federal. Uma espécie de prato feito para alimentar os desagradados com a realização de evento tão importante em uma cidade distante do centro-sul do País. Baldados esses esforços, ambas as instâncias governamentais trataram de melhorar certas condições de acolhimento e segurança, mas nem todas – como agora se pode facilmente compreender. Acredito, porém, que não foi dada pelas autoridades – a ONU deve ser incluída nestas – a atenção devida a certas questões que, se não estão relacionadas diretamente aos temas ligados à crise climática, nem por isso deixam de ser relevantes para a execução da oportuna, necessária e importante iniciativa. Por isso, é preciso apontar, ao menos como motivo de reflexão e crítica fundamentada, alguns pontos em que parece ter havido desídia, em âmbito nacional (Casa Civil, ABIN, PF e quejandos), estadual e da própria Organização das Nações Unidas. O primeiro desses pontos diz respeito à polarização, que não se esgota apenas no conteúdo ideológico dos polos em confronto. Não fosse a polarização um aspecto revelador e característico da democracia. Essa polarização – e aqui vem o que a diferencia da polarização em ambiente democrático – tem chegado à violência, de que se tinha notícia mais frequente quando opositores ao governo eram fuzilados em festas de aniversário, ou quando em atividade política. O assassinato de Marielle Franco, Anderson Gomes e Marcelo Arruda dá bem a medida do grau de polarização experimentado. Que   essa conduta malsã e condenável não cessou, ninguém ignora. A invasão, portanto, não pode ser investigada, se for negligenciada a descoberta de quem são seus promotores, executores e beneficiários. Outro ponto a destacar e pôr em discussão é a eficácia da GLO. Ao que parece, a invasão é incompatível com a valia desse instrumento sabidamente restritivo da democracia, a não ser que se admita sua entrega a pessoas interessadas no aprofundamento da polarização e no seu uso para atentar contra o direito dos cidadãos. Também disso já tivemos exemplo, mesmo depois que o governo federal procurava desmontar o esquema golpista que ocupava postos importantes na administração federal. Basta mencionar a quantidade de civis e militares ocupando postos ligados à segurança do Estado e da população, envolvidos nos atos de que poderia resultar o assassinato do Presidente, do vice-Presidente e de um membro do Poder Judiciário. A violência, ora atribuível a um, ora a outro dos polos políticos, desta vez é prática do cotidiano apenas de um lado. Procurem-se, portanto, quem se beneficiaria de uma tragédia, na invasão da COP30. Porque não está fora do cardápio da direita recorrer a atos semelhantes, como qualquer alfabetizado pode constatar.

 
 
 

Leio, graças à generosidade de um amigo, texto interessante sobre uma das agulhas de minha bússola. O amigo - e cunhado generoso - é Altamir da Costa Bastos. Médico, leitor voraz de Freud e Eça de Queiroz, o otorrinolaringologista aposentado é também, apreciador e conhecedor de música clássica. Não estão excluídos de sua atenção e crítica, o tango e a MPB. O texto recebido dele foi escrito pelo professor de Filosofia, História e Sociologia, Arlindenor Pedro. Com o título Tempos Modernos - Uma crítica à sociedade industrial, editada no sítio Ensaios Textos Libertários, o autor comenta a obra-prima de Charles Chaplin, produzida em 1936. Carlitos, a criatura criada e dirigida pelo genial humanista francês, tem lugar garantido na bússola com que tento dar rumo à minha vida. Por isso, o doce e humano vagabundo se junta a Dom Quixote, uma espécie de seu irmão literário, e a outras das agulhas do instrumento orientador de minha navegação neste mar chamado Vida, para compor livro editado em 2011. Jesus e Che Guevara - tão diferentes entre si, como semelhantes - são as outras agulhas. O livro, editado pela Valer, de Manaus, no que toca à criatura de Carlitos tem muito a ver com o texto libertário de Arlindenor. Talvez por isso, trouxe-me de volta à memória tempo que já vai cerca de 30 anos distante. Dos últimos anos de meu exercício diário do magistério, mais uns escassos anos pós-aposentadoria. Então, eu compunha o quadro docente de cursos de pós-graduação em Administração de Recursos Humanos, oferecido pela UFAM. Ministrada por primeiro às turmas de futuros especialistas, a disciplina Comportamento Humano na Organização funcionava como atrativo de interessados em conhecer face frequentemente negligenciada no estudo do fenômeno social chamado Administração. O curso consistia em projeção do filme a que alude o professor Arlindenor, seguido de comentários e discussão de que participávamos todos, professor e alunos. Não houve um só desses cursos em que a disciplina Comportamento Humano ocupasse lugar diferente do primeiro. Na ordem cronológica e na preferência e gratidão dos alunos. Constato, passadas 3 décadas, quão próximas as ideias e conclusões de Arlindenor Pedro e as minhas. O que confirma a imortalidade do cineasta que ofereceu ao mundo um conceito dignificante do ser humano. Carlitos não é menos que isso.

 
 
 

Quaisquer que sejam os erros do governo - qualquer governo -, sejam quais forem os benefícios levados às populações que lhes correspondam, ilusão admitir aplauso unânime. Tanto quanto unânime reprovação. Ainda mais quando eleições estão à espreita. E os políticos as vejam como a grande oportunidade de conquistar emprego bem remunerado ou manter-se nele. Por isso, os erros e manifestações infelizes dos governantes costumam acumular destaques, mais que os benefícios conquistados pelos eleitores. Lula sabe disso, como o sabem quase todos os que o apoiam incondicionalmente ou o combatem - incondicionalmente, também. Agora, o pronunciamento de abertura da COP30, em que pese o aplauso de líderes de vário países, inspira conterrâneos e compatrícios do Presidente em reação no mínimo distraída. Em muito, porque revela traição semelhante à que provocou o tarifaço contra o Brasil. Mais uma vez, Lula comportou-se como deve se comportar um líder de país que, por algumas peculiaridades, conquista crescente prestígio no cenário internacional. A arrogância e a prepotência de Donald Trump não bastaram para fazer do Presidente da República Federativa do Brasil um lacaio a serviço dos interesses e apetites de um soba que usa seu poderio atômico e a tibieza de boa parte dos governantes, mundo afora. Por isso, Lula comparou o gasto dos que fazem a guerra (U$$ 2,7 trilhões) com os prometidos U$$ 1,3 trilhões para evitar o apocalipse ambiental. Sem que a nação presidida pelo outro concorra com um só centavo de dólar.

 
 
 
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