- Professor Seráfico

- 19 de nov.
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Li em algum lugar que se o diabo existe, sua obra-prima é o banco. Único negócio capaz de estabelecer-se sem um centavo do dono, ele desempenha o papel de esponja, em relação à fortuna de quem a adquiriu com o próprio suor ou a do que a acumulou graças a outras formas de enriquecer. Nada mais paradoxal que o dono do dinheiro entrega-lo ao banqueiro e, precisando de parte da fortuna depositada, recorra ao seu (sempre infiel) depositário, a juros em geral extorsivos. Algo como exigir o locatário que o locador pague o valor do aluguel contratado. Confesso não saber que nome Karl Marx deu a essa absurda forma de exploração. Nunca o filósofo alemão chamaria isso de mais-valia. Afinal, o trabalho - e só ele - é capaz de criar capital. Esse, um fenômeno tão antigo quanto a necessidade de alterar a natureza. As primeiras ferramentas, criadas e usadas ainda nos tempos mais recuados, puseram nas mãos do hominídeo utensílios de pedra, com os quais eram confeccionados outros bens. Ainda que supostos especialistas desconsiderem o fato, ali estava o que os modernosos chamam tecnologia. Toscas, sim, mas nem por isso distantes das funções dessas ferramentas. No percurso entre as ferramentas de pedra e os robôs, viu-se a construção de uma sociedade crescentemente egoísta. Mais que isso, ambiciosa e ilimitada em seu desejo de modificar a natureza, de preferência em favor de propósitos cada dia mais distantes dos que deveriam servir à coletividade. As grandes navegações, a intensificação do comércio, a agressão a povos e seus habitats, em todos os continentes, levou à formulação do que se chama capital. Até aqui chegamos, a despeito dos riscos enfrentados e superados, para permanecer agredidos, eliminados, excluídos, tudo em função da voracidade e prepotência do capital. Sendo que, agora, não se trata mais da pedra polida, e de tudo quanto a pedra pode produzir. O capital, hoje, traduz-se e se revela sob as mais diversas formas. Antes considerado suficientemente representado por alguns bens materiais, depois passou a ter no dinheiro seu símbolo mais representativo. A queda do padrão-ouro, depois, levou a novas alterações no conceito. Este, atualizado, mostra não ser o dinheiro, o dólar em especial, mais que papel pintado. Não há mais o lastro-ouro que conferia valor à nota de dólares. Fala-se do conhecimento, frequentemente (tanto quanto hipocritamente) apontado como o verdadeiro capital moderno. Enquanto isso, os capitalistas são os que mais se empenham em impedir que o conhecimento fique ao alcance de todos. Essas reflexões me chegam, quando se noticia novo golpe frustrado. Desta vez, mais uma prova de que se Deus escreve certo por linhas tortas, a obra-prima do diabo não tem como esconder o mal de que é portadora.
