Conheço livros que tentam revelar as "normalidades" mutantes do Planeta. Não falo das alterações promovidas pelos fenômenos físicos, de que os tsunamis, grandes enchentes, furacões e tornados, erupções vulcânicas e quejandos são exemplares. Refiro-me à alteração sofrida por conceitos científicos, políticos, filosóficos e outros, de que se têm encarregado os interesses divergentes dos seres humanos. Ou os que assim se tentam qualificar. Um deles diz respeito à liberdade. O tom dado à alteração ora em curso vem recheado de más intenções, por isso que se firma em solo cediço e malformado. A liberdade, como as conceituam os seus maiores inimigos, recusa assumir compromisso com a verdade. Portanto, trata-se de uma liberdade mentirosa em si mesma. Se antes lemos livros intitulados em conformidade com a realidade que os terá inspirado (Era das catástrofes, Era dos absurdos, etc.), a sociedade atual segue caminho inverso. Deve-se entender o dito pelo que não o foi. Nisso consiste a liberdade de expressão reivindicada pelos que ampliam e exploram à exaustão as fake-news e a capacidade de mentir. Nessa verdadeira ginkana do mal, vencerá o que mais mentiras produzir e o que conseguir disseminá-las pelo Planeta. Empenhados em batalha inglória, cujo resultado é conhecido cada dia mais pelos habitantes da Terra - a desigualdade -, tentam fazer de um dos maiores crimes praticados contra a sociedade humana uma necessidade social por si mesma justificada. Não sei se algum estudioso ou pensador (político, nem pensar;...) escreveu algo chamado A era da mentira. Se ainda ninguém o fez, não terá sido por falta de assunto. Nem de exemplos contundentes comprobatórios da tese que tal suposto livro poderia reivindicar.
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Professor Seráfico - 4 de mai.
- 2 min de leitura
Somem-se as manifestações alusivas ao dia do trabalhador e a ocupação de universidades norte-americanas com as guerras registradas em várias partes do Mundo. Teremos, então, sinais de que há, sim, a possibilidade de superar e deixar para trás o mundo cruel a que o capitalismo nos conduziu. A tentativa de apagar a História, distorcer a realidade e subjugar - quando não, eliminar - populações inteiras, mundo afora, há de sempre encontrar resistência. Frequentemente dirigida contra alvos cuja aparência indica nada terem uns com os outros, tal resistência revela o potencial dos povos, quando postos diante da violência e da injustiça. O empenho em sepultar de vez a controvérsia entre esquerda e direita rui totalmente, sem que mesmo os produtores mal-intencionados da negativa disso se apercebam. São eles mesmos a proclamar sua opção pelas teses da direita. Ignoram, dentre tantas outras coisas e relações que não lhes frequentam o bestunto, quão dialética é a organização do universo. Afirmam-se direitistas ao extremo boa parte deles, como se isso não implicasse a ocorrência de teses e propósitos opostos. Pretendendo-se defensores de uma verdade única e excludente, escasseiam neles as mínimas condições para a própria convivência democrática. Uma vez confrontados por teses e propostas adversas, não titubeiam. O que parecia fácil impor, pela fragilidade ou inexistência de argumentos, pensam alcançar pelo uso da violência. Sua desatenção ou proposital ignorância em relação à história como ela foi vivida pelos cidadãos do Mundo (lembre-se, aqui da queda da Bastilha), nem ao tempo dá trégua. Daí desconsiderarem as guerras em operação no Mundo, preferindo dedicar toda sua energia e enorme fortuna, como se os conflitos tivessem ao menos um objetivo meritório. E apto a ser classificado como digno da humanidade. O intuito negativista que move esse tipo de agente social, seja onde for seu campo de atuação, leva-os a reivindicar a classificação de conservadores. Pior, ainda! Só mentes comprometidas com a dor, a injustiça e a morte podem desejar a conservação de um planeta em avançado processo de auto-destruição. Crescem as desigualdades, cada dia maiores. Ínfimo o número dos que só fazem acumular - riquezas materiais versus débito social. Ou, para sermos francos - agem como produtores dessa mesma desigualdade que pretendem conservar. O gelo, que conserva alimentos e cura certos males físicos é o mesmo que envolve seus corações.
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Professor Seráfico - 4 de mai.
- 3 min de leitura
Interessante texto publicado na Folha de São Paulo na última sexta-feira, 26 de abril (Até quando os americanos fazem a janta e os europeus lavam os pratos?), remete às percepções do inglês Robert Kagan, a respeito da conjuntura internacional. As palavras do britânico de nome tão sugestivo, pelo que lembra das atuais mazelas do mundo, estão contidas na obra Do Paraíso ao Poder: América e Europa na Nova Ordem Mundial. É sobre elas que o articulista da Folha, João Pereira Coutinho tece seus comentários. Para tanto, menciona quanto os países europeus ficaram ligados aos governos norte-americanos, sobretudo no pós-Segunda Grande Guerra. As primeiras e relevantes alterações teriam origem na fase posterior à Primeira Grande Guerra, mas depois tais alterações firmaram a liderança norte-americana, de que (aqui, a reflexão é minha) a guerra fria terá sido a manifestação mais ostensiva. Pelo que ela ofereceu, em termos de equilíbrio, sobretudo a transformação em potências atômicas a que foram levados outros países. Importa pouco destacar aqui que a guerra em sua versão fria é incomparável, em termos de segurança mundial, com a unipolarização existente hoje. Também não me deterei no equívoco do autor invocado por Coutinho, consistente na consideração de que há três guerras, pelo menos, a que devamos dar lúcida atenção. O Irã enfrenta Israel, a ilha de Taiwan enfrenta a China e a Ucrânia se opõe à Rússia. É quanto esta última consideração que mantenho discordância. A antiga nação integrante da que um dia foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas- URSS, não é mais do que a estratégia militar chama teatro de operações. A guerra entre as forças invasoras de Putin e a resistência de Zelensky trava-se, na verdade, entre os interesses dos Estados Unidos da América do Norte e seus servis aliados, não entre a pátria de Svetlana Alekseiévitch e as forças de Putin. Isso não exclui a presença e o papel determinante que os Estados Unidos da América do Norte desempenham em outros conflitos em curso. Em quase todos os continentes, não será exagero afirmar. Todos deploramos a crescente pobreza que acossa quase todos os países africanos, e quanto essa pobreza tem chegado a países antes dados como em processo de desenvolvimento. Mesmo naqueles em que o PIB experimentou algum crescimento, a distribuição da riqueza não atribuiu à maioria das populações melhorias expressivas em suas condições de vida. A hegemonia norte-americana, espalhando-se pelo Planeta, sobretudo depois da guerra fria, fez com que até as nações que a social-democracia permitiu avançar alguns pontos tem concorrido para anular as conquistas daquelas nações. Menos que a vigorosa migração registrada para as nações em que a social-democracia foi experimentada, não foi a chegada de estrangeiros aos territórios dos países europeus que anulou as conquistas. A expansão da OTAN, o braço armado do poder norte-americano, mundo afora, terá sido a maior cunha que impediu maiores avanços e fez, em muitos casos, nações europeias renunciarem aos padrões de sobrevivência como eles os tinham, durante a social-democracia. Não é à toa que Kagan escolhe o título sugestivo que Coutinho destaca. Quando fala do Paraíso, certamente o escritor britânico se refere ao estado de bem-estar correspondente ao que Inglaterra, França, Áustria, Alemanha experimentaram antes da queda do muro de Berlim e a consequente implosão da URSS. Quando coloca esse paraíso terreno em comparação com o poder e – sobretudo isso – tenta estabelecer relações entre esses termos e a nova ordem mundial, ele não sugere mais que velada crítica à atual hegemonia do país mais armado do Mundo, que o general Dwight Eisenhower, seu ex-Presidente chamava um complexo industrial-militar. Nada que leve a duvidar do que ele disse; só merece destaque o fato de a expressão ter sido criada e dita por quem comandou as tropas aliadas na Segunda Grande Guerra. A alternativa justa para um mundo melhor não será alcançada, se as atenções não se voltarem para as verdadeiras causas dos conflitos atualmente em curso e aqueles que poderemos esperar, mantida a atual relação de forças. Neutralizar a ação do governo norte-americano, em qualquer hipótese, é tarefa prioritária. Não sei se Kagan disse isso. Nem se Coutinho ainda tocará neste assunto.
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