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Rasgava dinheiro

andava nu pelas ruas

comia bosta

era louco, dizia-se dele

o dinheiro tudo pode

índios é que não gostam

de roupas

(e índio não é gente

como se sabe)

a fome é saciada

se há latas de lixo

razão falta

a quem rasga dinheiro

come bosta e

protesta contra o calor

talvez não a mesma

razão de quem

não estupra quem

lhe não apetece

põe arma na mão

dos ameaçados

para combater a violência

concede título de benemerência

a torturadores

matadores de judeus

vê acidentes na intenção

dolosa dos que matam

nesta Terra que

lhes parece plana

como plana é sua

própria cabeça.


 
 
 

De onde partiu

ordem e mandado

quem o mandatário

da maledetta tragédia?


Em que lago

achar o clique

ou tique inaugural

do que viria

transformar-se em

grave mal?

...é só comédia?


À falta de luz

greve do sol

necessário achar o

elo

cobrir-lhe o horror

com lençol

se na Espanha,

pañuelo...


Que droga

terá surgido

impaciência

vencendo ignorância

carga de cabal

inconsciência

enquanto abraça

os que afoga

pertinácia feroz

e atroz constância

empenho em fazer graça

do que é mal.


Manaus, 18-01-2022





 
 
 


ree

Olhares convergentes

não se cruzam na rua da

periferia

dirigem-se ao bailarino

improvisado

a necessidade de sobreviver

empurra o sangue

por artérias e veias

entumescidas

braços e pernas

movimentos desconexos

desconjuntados

Carlitos relembrado no

negro traje

a que não falta

luminosidade

ornamentos prateados

luar talvez o sol

cada dia mais escasso

como a generosidade

periférica

em trânsito apressado

de ruas malcuidadas

buracos também

na vida atribulada

como no palco

de asfalto


dois reais gratificam

irreal realidade

talvez preâmbulo

do assalto

ao bailarino de rua

a cada mal e desconjuntado

salto

vida na via exposta

sempre assaltada

nua e crua.


Manaus, 31-03-2022.


 
 
 
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