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Todos os tempos, impérios se constituíram; em todas as fases da História, impérios caíram. Menos que uma determinação divina, a constituição, expansão, decadência e morte de um império resultam da capacidade de o homem aprender, refletir sobre ideias por ele mesmo elaboradas. Os fundamentos de inúmeras das instituições criadas na mais remota Antiguidade ainda podem ser identificados, com as alterações e aperfeiçoamentos ao longo dos tempos acrescentados. Ora a Ciência desempenha esse papel renovador, ora ela mesma contribui para superar modos de fazer incapazes de responder às necessidades e sonhos da sociedade. Porque sonha, ao homem é reservada a função de cascavilhar no futuro o sentido de sua própria vida e da vida de seus contemporâneos é prósperos. Ainda agora, aproxima-se o encerramento da COP30. Até iniciar-se, ostensiva campanha conduzida pelos que se aproveitam - porque a produzem - da crise climática, tentou desacreditar a reunião. Primeiro, porque a sede escolhida se situa em região pobre, desprezada por compatrícios nascidos e atuantes em regiões. Do mesmo país, não custa lembrar. Depois, o anúncio de que reduzido número de países estariam sentados à mesa, para discutir a mais grave crise enfrentada pelo Planeta, nos tempos ditos modernos. A ausência partia da suspeita de que um império em flagrante processo de desfazimento influenciaria a frequência ao encontro. Às vésperas do encerramento da COP30, registra-se a presença de 196 nações, 90% das que integram a ONU. A ausência dos Estados Unidos da América do Norte, contrariando a expectativa e a pregação dos negacionistas, foi benéfica. Ao invés de emperrar a busca de um caminho que preserve o Planeta e de elaborar políticas e estratégias que removam os principais fatores do problema, a distância de Donald Trump poupou os milhares de participantes de suas grosserias, ameaças e reiteradas manifestações de arrogância. Assim, o clima reinante no ambiente alimentou-se - ele mesmo - da energia limpa tão reclamada. Tudo isso, e muito mais que poderia ser dito, revela o caminho do império, cujo fim concluirá o atual namoro com a irrelevância. A não ser que Trump ouse completar seu sonho, acionando o botão que transfomará a Terra em uma Hiroshima global.

 
 
 

Barcos nada bêbados, e numerosos, causaram a melhor repercussão, a parte da população atenta à COP30. A barqueata, como já se conhece o comboio fluvial que saiu de Manaus e foi crescendo sobre o rio Amazonas, chegou a Belém e marcou sua presença. Não apenas representando os professores reunidos no Sindicato ADUA/ANDES, porque o banzeiro cívico constituiu-se e se fortaleceu, graças à comunidade de preocupações, sugestões e objetivos que amalgamam a aproximação e parceria entre os segmentos sociais sensíveis às necessidades da maioria. Para tanto, as ondas do ambientalismo, do amor à Ciência, das causas raciais, dos ribeirinhos - em resumo, de todos os excluídos, levaram à realização da Cúpula dos Povos. Algo talvez surpreendente, diante da hegemonia de setores que recusam todo e qualquer avanço social e econômico que ao menos ameace a desigualdade com a qual, por bem ou por mal, somos obrigados a conviver e enfrentar. A esses setores pareceu interessante participar da COP30, em especial porque permitir qualquer restrição à fome voraz de que são insistentes e resistentes portadores, contrariaria seus próprios e danosos interesses. O documento elaborado, aprovado e divulgado pelos organizadores e participantes da Cúpula dos Povos, se não conseguirá sensibilizar as autoridades, nem por isso será abandonado pelos segmentos que o produziram e assumiram o compromisso de permanecer na luta. É o que esperam os defensores da democracia e inimigos da desigualdade. Longe de ser um um bateau îvre (barco bêbado, na tradução do título de um dos poemas mais conhecidos de Arthur Rimbaud), cada barco transportou a lucidez dos que desejam um mundo melhor.

 
 
 

Muita coisa tem sido dita pelos políticos, mesmo aqueles que dizem detestar a política. Os que fazem do exercício daquilo que Aristóteles dizia constituir a essência do ser humano, a profissão mais rentável do Planeta. Por isso, nas casas legislativas, do Brasil ao menos, qualquer dificuldade que impeça um dos representantes ditos (apenas ditos) populares de defender seus pontos de vista, ele logo atribui ao opositor mero interesse político. Ou seja, a casa onde a Política deve ser exercida em toda sua extensão e permanentemente, é avessa à Política. Seria demasiada ingenuidade, porém, admitir que onde há bancadas do boi, da bala, da Bíblia e outras de igual calibre, fosse possível levar ao nível exigido pelo parlamento percepção diferente. Não é diferente, quando tratamos do papel desempenhado pelo Poder Executivo. A visão de mundo dos que o detêm não está livre desses vícios, às vezes produto da ignorância; outras, das intenções ocultas dos que o exercem. O fluminense que governa São Paulo, por exemplo, não vê relevância na educação, reputada uma das funções mais importantes do Estado moderno. Fosse diferente sua percepção, ele jamais diria que o diploma cada vez tem menos relevância. Não bastasse essa manifestação de desprezo pela educação, Tarcísio de Freitas acrescenta outro conceito revelador de suas limitações intelectuais. As palavras complementares do pretenso candidato à herança política de seu ídolo fortalecem a hostilidade do seu juízo e a limitação de sua capacidade interpretativa. Segundo Tarcísio, o mercado está cada vez mais desapegado do diploma. Ou seja, a educação tem como finalidade submeter-se à fome voraz daquele ente que se tenta fazer passar por sobrenatural (divino, quem sabe), mas tem cpf, cnpj, endereço e whatsapp. Essas expressões, contudo, não são ditas ao léu, nem estão fora do contexto. Revelam, apenas

(e não é pouco!) a visão limitada de um político que se nega como tal e amesquinha o que todo indivíduo minimamente informado e civilizado reconhece: sem educação, o que restaria de civilização? Quem chama a atenção para as declarações do fluminense que governa São Paulo é o médico Nélson Saas, ex-diretor da Escola Paulista de Medicina e ex-reitor da UNIFESP.

 
 
 
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