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A eleição do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como sucessor do Papa Francisco logo gerou dúvidas e apressadas previsões. Afinal, pela primeira vez um sacerdote nascido nos Estados Unidos da América do Norte portará o báculo de Pedro. Na origem do Papa Leão XIV está, portanto, o primeiro detonador de uma discussão mal começada. Primeiro, porque o governo do país em que ele nasceu tem maioria predominantemente protestante. Ainda que o vice-Presidente de Donald Trump seja católico, isso quer dizer pouco, ainda mais se a esse foco da preocupação dos observadores se acrescentar a conduta no mínimo desrespeitosa com que Trump trata todos os que são diferentes dele e da chusma que o aplaude, segue e obedece. Muitos ignoram ou esquecem a condição de dupla nacionalidade ostentada por Leão XIV. Isso não que dizer pouco, dado que o cardeal Prevost tornou-se peruano por vontade própria e por se sentir atraído para a luta em favor dos mais pobres do país em que exerceu missão evangelizadora. O Peru, até onde se sabe, não difere do resto do Mundo, tido como resto no pior sentido que essa expressão possa ter, para os governantes do império decadente. Não que essa peculiaridade indique suposta hostilidade do novo Papa ao governo e à sociedade que o Presidente promete retornar à plenitude do poder imperial. Há outros sinais que serão gradativamente desvendados, como o diz o próprio nome escolhido por Prevost - Leão XIV. Ou seja, não é gratuito, como não o foi a escolha de Jorge Mário Bergoglio, quem elevou seu sucessor ao cardinalato. O compromisso com os mais pobres estava inscrito na testa do falecido Papa, quando assumiu o nome do santo de Assis. A simplicidade do nome, sem o designativo de linhagem traduzido pelo número, diz mais ainda sobre os propósitos do primeiro Papa do continente americano. A revelação cabal de seu modelo. Francisco, nada mais. Nem menos. Prevost, denominado Leão XIV abre logo no primeiro momento a natureza dos seus compromissos e o futuro rumo que dará à Igreja, que o exemplo de Francisco certamente lhe terá sugerido. Para tanto terá servido, também, sua relação com populações sofridas do Peru, onde o exercício religioso aproximou-o das condições de vida ali experimentadas. Nem seria de esperar seu desdém pelas ideias de Leão XIII, nada menos que o responsável pelo encaminhamento do Vaticano nas questões sociais da segunda metade do século XIX. Mais que muitos chefes de Estado e, mesmo, lideranças religiosas, Prevost conhece a encíclica Rerum Novarum, por todos reconhecida como fundamental à doutrina social da Igreja. Não seria de esperar, de pronto, o retorno da organização religiosa à Teologia da Libertação. Imaginar, porém, que a tendência é ela ser promovida, na tentativa de reduzir as desigualdades contra as quais lutaram Leão XIII e Francisco, cada qual a seu tempo e modo, no papado de Leão XIV. Pouco se ouviu, até agora, do novo chefe da Igreja e do Vaticano. Menos, ainda, se terá lido dele. Se não há certezas, nem é possível levantar probabilidades, há depoimentos e registros que autorizam e geram novas e alentadoras esperanças. Leão XIV, sê bem-vindo!

 
 
 

O anúncio veio

- presumo –

ao contrário de apocalípticas

trombetas

ruídos conhecidos

como nos ensinavam

em tenra infância

arrumação de casa

lá no alto Paraiso

imaginário

teimosia de torná-lo real

pisado por pés humanos

pensados por mentes

talvez insanas

realidade tantas vezes

surreal


Logo os móveis pareceram arrumados

de cima tarefa dada por

acabado

já só caiam

- foram tão poucas!

míseras gotas

o resto

das águas da lavação

ora louvada.

 

Longo o período de

estio

maltratados ensujecidos secos

eram os rios

de esperança os corações

fazendo-se vazios


Ei-la chegando

tímida e bela

como a nubente do poeta

toca suave o telhado

de lá emana som

jamais imaginado

não é Bach

Chopin não era

nem de outros a arte

inata...

Aos ouvidos

secos também

chegou o som

nos corações tocaram as cordas

todas em serenata

ou quem sabe

a melhor de todas as

sonatas.

24.09.2024. 08:30

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*Saudação à breve e pobre chuva caída naquele dia, naquela hora, na área em que reside o editor deste blog. Ao início da tarde, uma chuva quase igual às que se conhecem como amazônicas (trovões, muita água, fartura passageira) desabou esperanças sobre o solo e os que o pisam.

 
 
 

No blog da comunicadora Ana Cláudia Jatahy (jaraquinarede.com.br) encontro oportuno e bem-escrito texto, de autoria do procurador do Estado Ronald Peres. No esclarecedor trabalho, o autor trata da Revolução de 1924 em Manaus, que terminou por derrubar a oligarquia dos Rego Monteiro. A leitura do agradável texto tornou-se para mim ainda mais interessante, por mencionar uma das figuras mais emblemáticas da política regional no século XX. Refiro-me ao então tenente Magalhães Barata, um dos jovens militares que participaram do movimento liderado por Ribeiro Junior. Da participação de Barata eu tinha conhecimento; do papel destacado dele na derrubada de Rego Monteiro eu quase nada sabia. Alguns hão de perguntar porque a presença do tenente Joaquim de Magalhães Cardoso Barata mereceu minha atenção. É fácil justificar. Basta dizer da influência daquele militar na vida política do Pará. E acrescentar acontecimentos de que participei ativamente, em razão da liderança que ele exerceu durante cerca de 30 anos no estado onde nasci. Um dos interventores designados por Getulio Vargas, Barata depois tornou-se governador do Pará, quando venceu a eleição de 1946. Derrotado por outro colega de farda, o general Alexandre Zacarias de Assumpção em 1950, o ex-interventor e ex-governador ganhou o mandato de senador no pleito seguinte. Já nesse cargo, ocorreu sua aproximação com meu pai, o funcionário de carreira dos Serviços de Navegação e Administração do Porto do Pará-SNAAPP, João Baptista Seráfico de Assis Carvalho. Porta-voz e interlocutor dos interesses dos marítimos junto ao senador Magalhães Barata, meu pai fez-se admirado pelo fundador e Presidente estadual do Partido Social Democrático. Primeiro, pela facilidade de argumentação, demonstrada quando levava os pleitos da categoria profissional a que pertencia. Mais tarde, pela posição assumida, diante de ataques e vitupérios lançados contra Barata por um de seus muitos adversários políticos. Na roda de amigos estavam, dentre outros, meu pai, um ex-chefe de polícia designado pelo ex-governador Barata, um deputado de partido opositor do líder pessedista e o então chefe da Casa Civil de Zacarias de Assumpção. Deste partiram as agressões verbais a que Seráphico respondeu com elegante e contida veemência. O quanto bastou para o ex-auxiliar de Barata provocar um encontro do meu pai com o líder paraense do partido pelo qual Juscelino Kubitscheck de Oliveira se elegeu Presidente da República. Poucos meses depois, João Seráphico era eleito vereador do PSD à Câmara Municipal de Belém e designado pelos colegas para a vice-liderança da bancada naquela casa legislativa. Marcou-se naquele momento o início do que seria longa carreira política, não fosse a mesquinhez de adversários incomodados com a ascensão de um homem pobre e reto, no cenário político paraense. Mesmo traído quando disputou a Presidência do chamado legislativo-mirim, João Seráphico não poderia imaginar quanto a solércia e o ódio costumam trabalhar juntas. Tal constatação ocorreu, quando ele, já exonerado das funções de Superintendente de Navegação dos SNAAPP, foi injustamente caluniado por adversários, porta-vozes dos interesses de alguns militares da Marinha. Primeiro civil a dirigir a navegação na Amazônia, a ele fora dada a preferência, quando Barata respondeu à solicitação de JK. Passados 6 anos ( 1966-1961), desde que assumiu o cargo, meu pai foi acusado de ter favorecido os candidatos do PSD, valendo-se dos navios da autarquia de que era um dos dirigentes. Um processo judicial foi instaurado, dando oportunidade a que o ex -superintendente provasse sua absoluta isenção. Por isso, nunca o processo chegou a julgamento. A punição impossível de aplicar foi substituída pela espada de Dâmocles que o impediu de concorrer em outros pleitos. Estava sub judice, não poderia candidatar-se. Barata já era morto. O texto de Ronald Peres fez-me resgatar esse registro memorial, feito em homenagem ao estudioso da História do Amazonas que enriquece o quadro da Procuradoria de Justiça de seu Estado.


 
 
 
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