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Ultimatum e terrorismo

Foi necessário viver mais que 80 anos, para assistir ao deprimente espetáculo protagonizado pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. A não ser que a autoridade ignore o montante do dinheiro público colocado à sua disposição e de seus vorazes colegas, é impossível ver normalidade no ultimatum por ele imposto ao Presidente da República. Trata de voltar as costas aos interesses, necessidades e carências da maioria dos brasileiros, a pretensão de reduzir a despesa pública sem a devida apuração dos fatos e das condições em que são prestados os serviços públicos à população. Ainda mais quando o maior gargalo da intenção do Poder Executivo diz respeito à contenção da exportação de capitais brasileiros, para investimentos e aplicações em outros países. Ou seja, sem considerar a dinheirama de que os parlamentares se apropriam, a título de emendas beneficiárias de seus currais eleitorais, nem a inaceitável qualidade dos serviços à população (saúde, segurança, habitação, alimentação, educação, em primeiro lugar), o Presidente da Câmara submete o Chefe do outro poder a inadmissível constrangimento, com data pré-fixada. Se quisesse - e pudesse, é sempre bom lembrar -, Hugo Motta poderia alterar a quantia e os procedimentos que, a critério do órgão legislativo, são retirados do controle do Poder Executivo. E destinar pelo menos parte substancial do financiamento captador de votos nas áreas controladas pelos deputados, ao pagamento dos compromissos do governo, assim considerados os três poderes que o eufemismo manda qualificar como autônomos e harmônicos. De uma harmonia regida cada qual por seu próprio maestro, sem que a grande plateia do trágico desconcerto tenha sequer o direito de manifestar-se. Ou, a alternativa inútil, tem a obrigação de aplaudir tudo quanto, supostamente em seu nome, apenas testemunha ocorrer. Nem percebem - ou, se percebem, confessam sua adesão aos piores propósitos - que a crise institucional só pode beneficiar os descontentes com o estado democrático de direito, tão ansiosamente desejada e duramente construída. Por isso, Hugo Motta e seus aliados dão contribuição à permanente campanha pela extinção do Parlamento e do Poder Judiciário, de que os acontecimentos que culminaram no terrorismo frustrado em 08 de janeiro de 2023. Terrorismo e ultimatum, nesse caso, são irmãos paridos do mesmo ventre.

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