Em 1850, o Amazonas conquistava autonomia política e administrativa ao galgar a condição de província, saindo dos grilhões do Grão-Pará.
Alguns historiadores consideram que esse status foi um prêmio pela comarca ter ficado ao lado do império durante a Cabanagem - a grande revolta cabocla contra a miséria e a opressão.
A nova província foi criada dentro do sistema escravocrata e sua autonomia ainda tardou para ser efetivada. Seu primeiro presidente foi um deputado paraense, Tenreiro Aranha.
Com a república, passa a ser estado e a incorporar todos os desvios nada republicanos que o Brasil foi levado a trilhar. Por aqui também houve patrimonialismo, coronelismo, oligarquias e outras mazelas.
Nossas riquezas começaram a ser saqueadas ainda no império, mas foi na república, já com os primeiros sinais do capitalismo tardio, que o "ouro negro", a borracha, o látex extraído das seringueiras nativas, passou a servir de produto para enriquecer pouquíssimas famílias instaladas em Manaus.
Aqui também se desenvolveu práticas comuns de apropriação do público pelo privado, com aval do estado. O velho patrimonialismo, iniciado no império, legou uma cultura de posse e invasão até mesmo do direito individual.
O imperativo dessa constituição política criou um caldo cultural nas relações sociais e humanas. Há no Amazonas uma "servidão voluntária" a tudo que se configura poder exclusivo, como se grupos econômicos e de dominação política fossem uma imposição divina, logo eterna.
Por aqui o público continua atendendo aos interesses do privado. Nas primeiras décadas do século XX, vastidões de terras públicas foram doadas para empresários, comerciantes e famílias ricas.
Concessões foram distribuídas pelo estado, tal qual no império. Agora com o horror de vivermos no regime da "res publica".
A invasão de privacidade também é uma herança patrimonialista. É comum um vizinho colocar uma caixa de som em volume que incomoda a todos ao seu entorno.
Parques públicos, ruas, ônibus coletivos, instituições públicas padecem com esse provincianismo baré, daí serem vistos como: se é de todos, não é de ninguém, logo não tenho obrigação de conservar e respeitar como espaços coletivos.
O provincianismo está na falta de aceitação ao que é de todos e a própria política se tornou objeto de interesse privado, sendo uma das causas do atraso no qual o estado está imerso.
Precisamos superar essas condutas responsáveis por tanto ultraje e submissão.
Lúcio Carril
Sociólogo.
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