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O bom Leão*

Associou-se a imagem do chamado rei das selvas à Receita Federal. Para cumprir seu papel no estado moderno, o órgão arrecadador deveria ter sempre em mente o caráter de redistribuição que lhe é reservado. Em síntese, seu papel não se esgota na preocupação de fornecer recursos financeiros que assegurem o funcionamento do aparato oficial. É graças ao esforço dos agentes do fisco que flui parte da riqueza produzida em todos os países que se apresentam ou reivindicam algum grau de civilização. Afinal, o próprio Estado representa (ou apenas representaria, sem nunca ter chegado perto de fazê-lo?) um avanço, relativamente a outros expedientes de que se vale a sociedade humana, como instrumento capaz de superar os obstáculos e dificuldades decorrentes da convivência entre pessoas. Avulta destacar, mas nem sempre isso frequenta a cogitação dos interessados, quanto podem os estados modernos valer-se das agências fiscais sob seu poder, quando se trata de reduzir as desigualdades e tornar menos conflituosas as relações sociais. Ou seja, sem que tenhamos presente a ideia de Justiça Social, e sem que seja adequadamente distribuída a riqueza gerada na sociedade, será falácia alegar qualquer sinal de humanidade às pessoas que se julgam animais superiores aos que habitam as selvas e andam com as quatro patas sobre o chão. Milhões de palavras que sejam ditas, aqui ou em qualquer lugar, jamais impedirão nosso testemunho a respeito da sociedade em que vivemos. Nem mesmo os maiores beneficiários do que eles mesmos produzem - a pobreza, a doença, a morte por qualquer pretexto, a exclusão dos diferentes, a discriminação de todo tipo etc. - conseguem empanar a vista dos que têm olhos de ver. Não é preciso, sequer, recorrer ao exemplo de outras nações, tão pobres quanto as da Ásia e África, e tão distantes, para constatar o grau de desigualdade espalhado pelo Planeta. Fiquemos no continente americano, sobretudo porque nele se situa a sede de onde promana a mensagem de louvação à desigualdade e o brado em favor de uma nova guerra. Em escala global, porque assim o determinam os apetites vorazes e o modus faciendi posto em prática no exato momento em que escrevo, na faixa de Gaza, na Síria, no Congo, na Venezuela e em tantos outros lugares. Os brasileiros, igualmente, não temos fugido à regra geral: quanto mais ínfima minoria acumula dinheiro, bens e poder, a grande maioria sobrevive em condições sub-humanas. a não ser que levemos em consideração dos cuidados, as atenções e outros benefícios de que desfrutam os animais ditos de estimação. Os pets, como o chamam os que ajustam sua linguagem à moda imposta pelo modo de produção em vigor. A RF é chamada de leão, porque assim o classificam os que recusam deixar parte da exagerada remuneração que recebem, mesmo se isso condena a maioria à morte. Por doença ou inanição. Às vezes, até, pela ação de seus próprios paus-mandados. Alguns desses, vinculados a alguma das organizações de que esperam ter a vida garantida.

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*No ESPAÇO ABERTO há mais de Leão XIV.

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