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novissima verba

Paulo Emílio Martins

primeiro eu banhei o teu corpo

com o meu pranto

e colhi nas flores as mais aromáticas fragrâncias

para te perfumar


com o véu diáfano da nuvem de magalhães

eu vesti e desnudei

o teu corpo

ainda úmido de minhas lágrimas


de órion eu trouxe as mais brilhantes estrelas

para enfeitar o teu colo de menina.


dos mares eu colhi pérolas raras

e construí uma tiara

para enfeitar

os teus cabelos longos e sedosos


em mágicos jardins

eu cultivei pálidas rosas

e teci uma guirlanda

para emoldurar os teus seios


os teus braços e os teus pés

eu os deixei nus


e te beijei,

te beijei,

te beijei,


cinzelando com meus lábios

as formas do teu corpo,

qual fídias talhando a beleza


então,

tu me deste o teu canto,

a tua poesia,

e o singular encanto

do teu primeiro beijo


quando as trevas chegaram

apagando a tua imagem

eu mergulhei nos vórtices da solidão

conheci as abissais profundidades do vazio





neste grito

eu clamo:


por deus!

o que eu faço destas mãos

depois de ti?!

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