Mesmo os adversários de Lula proclamam a excelência do discurso por ele proferido, na abertura da Assembléia Geral da ONU. Embora haja sempre a sedução por comparar Lula com seu antecessor, essa é intenção logo abandonada. A distância entre um e outro equivale, se não é maior, à que separa a Terra de Netuno. Ainda que os hostis ao ex-operário mencionem as diferenças entre teoria e prática no governo lulista, não conseguem esconder uma espécie de encantamento. Se fosse diferente, pior para eles, quando a repercussão da fala de Lula atribui ao Presidente brasileiro a condição de estadista. Nada menos que isso. Desde o sepultamento do terceiromundismo, de que Che Guevara foi o líder, só agora aparecem perspectivas promissoras para os povos impedidos de melhorar as condições de vida da maior parte das populações, Mundo afora. Até o vocabulário foi atualizado. Não há mais subdesenvolvidos, mas emergentes; não se fala de Terceiro Mundo, mas do hemisfério Sul. Isso não fragiliza, em qualquer aspecto abordado, a importância da desigualdade, insistentemente mencionada por Lula. Uma espécie de reconhecimento do maior e mais urgente problema a discutir, ainda que a Terra esteja em acelerado processo de destruição. Também, nesse mesmo período tendo alcançado níveis de produção exponenciais. Em contrapartida, também aprofundou e espalhou a desigualdade, em todos os aspectos que envolvem as populações. A tradução dessa tragédia, mais visível na África, não poupa qualquer continente. Diferente do que muitos ingênuos (?) afirmam, o País tido como o mais rico do Planeta não está distante desse problema. Nos Estados Unidos da América do Norte, ao enriquecimento crescente de poucos corresponde número inadmissível de pobres. Grande parte deles, famintos como o é parcela expressiva de africanos. A desigualdade, todavia, não pode ser considerada um fenômeno natural. Onde ocorrem tsunamis, terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, deslizamento de terras e que tais, piores têm sido as consequências sobre a população, os pobres na quase totalidade das vítimas. Esse, sabem os que dominam as quatro operações fundamentais da Matemática, é um dos produtos perversos da forma como a riqueza por todos produzida é distribuída. Dê-se o nome que se der a tal sistema de relação social - capitalismo, liberalismo ou neoliberalismo -, é para ele que devem voltar-se as vistas dos cidadãos que desejam uma sociedade menos egoísta, usurária e perversa. Não se trata de simplesmente reduzir a pobreza. É muito mais que isso a reivindicação dos que acreditam na possibilidade de um mundo melhor. Buscar a redução da pobreza é tarefa ajustada aos que se pretendem mostrar pessoalmente generosos. Lutar pela redução das desigualdades é compromisso reservado aos que reivindicam a Justiça Social. Muito além disso, um dever humano dos governantes. Enquanto persistirem sistemas econômicos exploradores predatórios de seres humanos e da Natureza, qualquer generosidade pessoal perde sentido. Devemos, portanto, entender o significado do discurso de Lula na ONU, como uma convocação. Tudo o mais na fala do triPresidente brasileiro terá sido secundário.
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