Um dos mais devotados estudiosos da Amazônia, o professor Samuel Benchimol juntava à sensibilidade social com que abordava os problemas da região a permanente atenção devotada ao futuro. Dele guardo, mais que qualquer das muitas formulações teóricas ou comentários, uma sentença que não me sai da cabeça: crescer é fazer maior; desenvolver é fazer melhor. Não sei quantos perceberam o conteúdo e o sentido dessas palavras que, por leitura e experiência no convívio não suficientemente frequente com o autor, ficaram registrados em minha mente. Talvez eu deva em grande parte a atenção que ponho no problema da desigualdade a essa frase-símbolo. O verbo – fazer – diz muito mais do que uma leitura superficial, desatenta, enviesada poderia sugerir. Quem faz, age. É de ação que nos fala Benchimol. Na sociedade, os agentes são seres humanos ou instituições por eles criadas. Dispensam-se gurus e messias na construção de uma sociedade em permanente processo de melhoria, aperfeiçoamento, em direção à felicidade, de resto, o objetivo individual e coletivo, onde quer e quando a sociedade humana estiver. O crescimento, portanto, não satisfaz à humanidade, tão complexas são as relações sociais tecidas ao longo da História. Se a felicidade pode apresentar-se sob as mais diferentes exigências, a dignidade humana que a sustenta exige oportunidades niveladas em sua base. Aí se impõe considerar quanto as nações têm crescido em números indesmentíveis, mas nem todas. Mostremos as extremidades, comparando os Estados Unidos da América do Norte com os países (quase todos, se há alguma exceção) subsaarianos. O contraste, se tivéssemos sã consciência, deveria envergonhar todo ser humano. Nos países ricos, tudo só faz crescer. A cada ponto percentual desse crescimento corresponde a deterioração dos padrões de sobrevivência de outras nações. O crescimento, portanto, não basta. Nem se justifica o que dizem os neoliberais, quando fazem dele pressuposto para a distribuição do bolo. Já o desenvolvimento implica a contemplação de todos com os benefícios do que foi produzido. Seja em termos remuneratórios, seja na prestação eficiente dos serviços públicos, seja nos investimentos que levem a remuneração e a expansão dos serviços a crescentes parcelas da população. Políticas públicas voltadas para esses fins, em consequência, devem prestigiar o desenvolvimento, não o puro e simples crescimento. Fazer melhor, assim, é o que melhor se tem a fazer. Nem precisaria dizer, mas a realidade brasileira e a indiferença criminosa de nossa elites pedem dizê-lo: crescimento sem desenvolvimento só faz aumentar a desigualdade.
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