Energia punitiva
- Professor Seráfico

- 10 de nov.
- 2 min de leitura
Com a ajuda dos humanos - os que realmente o são e os que pretextam ser -, a natureza vai impondo castigos aos habitantes da Terra. Ora é o rio, destruindo com fartas águas e inesperada violência, como resposta à incúria dos governantes e à cumplicidade dos que os levaram aos postos ocupados; ora os ventos se encarregam de punir a desigualdade produzida, resultado inevitável do egoísmo sem limite. De um caso, o exemplo mais recente foi a enchente que a bacia do Guaíba derramou sobre Porto Alegre e boa parte do território do Rio Grande do Sul. O tornado que sábado varreu o Estado do Paraná (um pouco menos, tambem o de Santa Catarina) dá igual testemunho, relacionado à outra hipótese. Outra, tragédia tão lamentável quanto ambas, ocorreu no Rio de Janeiro. Sendo que, dessa vez e nesse local, pesaram mais a vontade e a visão de mundo do governante.
Com uma agravante, de nenhum ponto de vista lisonjeiro, de ter produzido mais mortes que nas tragédias anteriores. O massacre mais recente ultrapassou os 111 mortos do Carandiru. Em todos os quatro estados, instalaram-se governos inspirados no que de pior o ser humano - real ou presumível -ostenta: o culto à morte, o desprezo pelos valores correspondentes ao que Hannah Arendt chamou condição humana. Do agnosticismo em que me instalei, contrastado aprecio os fatos. Reflito sobre eles e tento explicar o que me parece desafio a que todos os seres humanos deveriam responder. Refiro-me à ideia de deus, esse ser a cuja onipotência muitíssimos atribuem a criação, regência e destino do Universo. Desses, não são poucos os que entregam sua própria vida a tarefa tão pouco afeita à ideia de um ser superior e divino. Uma espécie de fuga à responsabilidade de cada um, diante de uma sociedade cujos valores e condutas distanciam-se do que é proclamado como determinação vinda do alto. Aí, então, cresce em mim o sentimento de que o Universo, a Terra pelo menos, é regida por energias, as contidas no solo, no sol, no subsolo, nos rios e, também, as que habitam a mente humana. Quem sabe é da cabeça da maioria dos terráqueos sociáveis, fraternos, incomodados com a desigualdade, que tem vindo a energia punitiva, como ela se mostrou no Rio Grande do Sul, no Paraná e no Rio de Janeiro? Onde mais, agora?

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