...CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Estou em casa com as reações colaterais da bivalente: moleza, dor no corpo, sono. Normal em algumas pessoas.
Mas o que não é normal é o pânico que alguns veículos de comunicação aqui de Manaus estão criando com o caso do adolescente que pirou numa escola particular.
Manaus tem quase mil escolas públicas e particulares. Houve um caso isolado de agressão e grave ameaça numa delas. Não é nem um surto coletivo. Só que os propagadores de fake news de plantão estão ativos nas redes sociais inventando bilhetes, pichações, mensagens ameaçando massacre e violência gratuita. E o que é pior, vejo programas de tv com seus apresentadores exortando à violência, como se houvesse possibilidade de agressão em dezenas de escolas.
Pedem providências do poder público, com segurança armada dentro das escolas, polícia dando baculejo em crianças e adolescentes, etc.
Ora, quem quer uma saída com armas para segurança nas escolas é a mesma turba que defendeu a liberação de armas e o consequente empoderamento bélico do crime organizado e de gente mal-intencionada, que sai matando suas companheiras, atirando no outro em acidente de trânsito, intimidando vizinhos e outras barbaridades.
Foi essa cultura das armas, estimulada no governo do traste genocida, que deixou nosso país vulnerável nas relações sociais de tolerância e respeito.
Nossas crianças e adolescentes têm acesso às informações pelas redes sociais e mídias eletrônicas -e devem ter, pois não se resolvem problemas sociais com retrocesso tecnológico- mas foi uma horda de malfeitores e péssimos cidadãos e cidadãs que contaminaram essas redes com mensagens de violência e crimes.
São pais que propagaram e propagam o discurso armamentista, que leva ao extremo que chegamos.
Foi o riso sádico de gente adulta apoiando Bolsonaro fazendo arminha com criança no colo que abriu o fosso dessa barbárie toda.
Não tenho como investigar, mas aposto que adolescentes que promoveram agressão nas escolas e fora delas têm pais racistas, misóginos, homofóbicos, defensores das armas e da pena de morte. Ninguém nasce ruim. O ser humano é uma construção biológica e cultural; e é na cultura que ele se torna cidadão de bem ou não. Seus pais são seus espelhos.
Em vez de governos procurarem uma saída nas armas para conter possíveis agressões dentro das escolas, deveriam oferecer atividades esportivas, lúdicas, culturais, artísticas e comunitárias dentro das escolas no fim de semana. Os prédios e suas quadras ficam ociosos, enquanto a garotada se diverte no meio da rua. A escola não faz parte da vida dela. É só um martírio diário de receber números, regras, fatos, datas e a boa hora da merenda.
É preciso fazer com que crianças, adolescentes e a comunidade criem sentimento de pertencimento com a escola. Quando você sente que o espaço é teu, você cuida. Quando há interação entre pessoas num ambiente de cidadania, o resultado é mais tolerância, amor e civilidade.
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Lúcio Carril
Sociólogo
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