Durante a ditadura, os brasileiros exilados ou banidos tentavam levar à comunidade internacional o necessário conhecimento da realidade brasileira de então. Faziam o que podiam, para que os estrangeiros, cidadãos e governos, tivessem uma ideia, pálida que fosse, da tragédia vivida pelos trabalhadores, indígenas e todos os que ousavam discordar dos ditadores e seu séquito. Tanto quanto ainda permanecem desaparecidos os corpos de muitos dos assassinados pelos mandantes da época, não se sabe ao certo qual o número exato dos que foram levados à morte pela ação dos que antes se chamavam esbirros. A cadeira-do-dragão, o afogamento em tambores, o pau-de-arara, além das balas de armas de fogo ganharam status de instrumentos do poder oficial. Em todo lugar era certa a presença de dedos-duros, sempre dispostos a prestar favores aos poderosos. Muitos desses acabaram vítimas da queima de arquivos. Sua intimidade com os donos do poder e a pouca confiança merecida, apesar de sua sabujice e da subserviência típica da espécie, exigia dos que mandavam elimina-los da face da Terra. Tal forma de dar cabo dos adversários considerados inimigos (termos equivalente, para ditadores e os que os apoiam) não está, como se sabe, alheia aos acontecimentos políticos brasileiros, quando já se passaram mais de 60 anos do golpe empresarial-militar de 1964. Com a agravante de que a impunidade dos torturadores e assassinos oficiais daquele trágico período inspira ainda hoje muitos dos órfãos e viúvos da ditadura. Fatos ocorridos nos últimos anos o têm comprovado, seja pela obscuridade, ou pelo esquecimento que empurra para baixo do tapete grande parte dos episódios mais recentes. Ainda hoje não se sabe ao certo como Bebiano, ex-homem-da-copa e cozinha do ex-Presidente morreu. Também estão por esclarecer as sucessivas mortes de frequentadores e hóspedes da pensão em que se hospedou o apunhalador do então candidato à Presidência, que a Justiça Eleitoral tornou inelegível. A rigor, o mesmo aconteceria com os mandantes, financiadores e articuladores de ações das quais resultaria a morte de Lula, Alkmin e Alexandre Moraes, não fossem a reação do relator dos atos de terrorismo coordenados pelo Palácio do Planalto e suas cercanias, mais a resistência de alguns oficiais superiores e as investigações da Polícia Federal. Há, porém, um outro lado, tão atroz quanto os fatos a que se ligam os matadores, de que poucos se apercebem. Quando a banca manipula o câmbio, por exemplo, não o faz apenas por discordar do governo. Pratica, na verdade, um tipo de terrorismo, sem sequer usar qualquer das armas e das geringonças que tiraram a vida de tantos brasileiros. Um dos banqueiros financiadores da aquisição de instrumentos de tortura, toda manhã recebia a hóstia das mãos do padre que rezava a missa e, mais tarde, a mão que havia recebido o pão sagrado era a mesma que assinava os cheques do financiamento. A mais terrível forma de estimular o terrorismo.
top of page
![](https://static.wixstatic.com/media/4ae2c1_179dd7f78f8f4715950f831ee2d12e50~mv2.png/v1/fill/w_1421,h_786,al_c,q_90,enc_avif,quality_auto/4ae2c1_179dd7f78f8f4715950f831ee2d12e50~mv2.png)
Posts recentes
Ver tudoA História, repetida apenas em farsa, parece atribuir à sociedade dita humana a dialética que a coloca em movimento. Junto com as...
100
O propósito de reconquistar e expandir o poder enfraquecido de seu suposto império impõe desafios de que ainda não se sabe até aonde...
10
Anunciam-se medidas que reduzam a poluição sonora em Manaus. Nada que já não conste das normas legais e regulamentares em vigor, como a...
00
bottom of page
Comments