Reduzir a goleada
- Professor Seráfico
- 4 de mai.
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Ainda que seja forte a resistência à pretendida redução da fórmula 6 X 1 da jornada de trabalho, é preciso que a maioria do Congresso a acolha. As razões apresentadas pelos defensores do projeto têm base, sobretudo, na realidade da sociedade brasileira, como o revelam todos os números levantados por respeitáveis e insuspeitas instituições nacionais e internacionais. As causas de adoecimento ligado à forma de exploração da mão-de-obra têm sido objeto de estudos e trabalhos, que de acadêmico só têm a forma, pois seu conteúdo revela realidade somente aceita pelos que cultivam a desigualdade e dela tiram o maior proveito. Nem seria preciso dizer aqui ser mais frequente do que o admissível (se se pode admitir tamanha crueldade) o registro de trabalho escravo, em pleno século XXI. Última das nações que tentaram abolir o regime escravagista, o Brasil tem em suas elites o fator principal de estímulo à prática, por todos os títulos cruel e desumana. Já nem se fale apenas da sobrecarga horária, da indiferença quanto ao ambiente físico de trabalho e outras condições que atentam contra a saúde dos trabalhadores, do ponto de vista físico. A essas circunstâncias ligam-se outras, de forma quase silenciosa, mas nem por isso menos danosas aos trabalhadores. Estudos realizados pela Fundacentro - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho denunciam verdadeira epidemia de adoecimento causado pelo trabalho, chegando a 470.000 o registro de trabalhadores acometidos de problemas mentais e comportamentais, dos quais a ansiedade foi o que mais se registrou, em 2024. Deve-se ao retrocesso nas políticas de proteção ao trabalhador, a situação grave em que hoje se encontra boa parte da mão-de-obra utilizada pelas empresas. O alerta - mesmo não sendo o primeiro - foi dado pelo Presidente da Fundacentro, Pedro Tourinho, que Adele Robichez, José Eduardo Bernardes e Larissa Bohrer, fizeram repercutir no Brasil de Fato. A tal ponto o fenômeno faz parte do cotidiano de milhões de trabalhadores brasileiros, que os autores constatam a existência de uma verdadeira epidemia de adoecimento mental. A denúncia ocorreu em 28 de abril passado, data intitulada Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho. A aprovação da lei que superará a atual jornada (6 X 1), todavia, não esgota o dever da sociedade de se preocupar com o problema, uma vez que remanescerão outras condições por si só impeditivas do desfrute dos benefícios decorrentes da simples redução da carga de trabalho. Quem nos assegura que os horários disponíveis levarão as mães e os pais trabalhadores a desfrutar do repouso, da diversão e do lazer necessários à saúde, tanto física, quanto mental - deles e dos próprios filhos? A melhor remuneração dos empregados pelas empresas a que prestam seus serviços é indispensável, para que a disponibilidade de tempo resultante não se torne mais uma aliada das enfermidades mentais ligadas ao trabalho. Ter mais tempo para executar tarefas eventuais e desregulamentadas (como soem ser os biscates), como forma de acrescentar alguns poucos reais nos ganhos mensais do trabalhador, representará apenas um simulacro de benefício. Estejam atentos os trabalhadores, suas nem sempre legítimas e viciadas lideranças, para que o tiro não acabem sendo dado em seus próprios pés. Há quem advogue o congelamento salarial por 6 anos. É preciso não esquecer desses que o fazem, liberais que se pretendem os donos exclusivos da liberdade que os deveria motivar. E motivar todos os seres humanos.
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