Recidiva lamentável
- Professor Seráfico

- há 3 horas
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A edição de hoje da Folha de São Paulo retoma a trajetória desse órgão de comunicação, após fugaz sopro de compromisso com o avanço da sociedade democrática. Alinhada, dentre tantos outros meios de comunicação ao conservadorismo que tramou, executou e manteve o golpe de 1964, o importante diário paulista dava sinais de combater as ideias retrógradas que se reinstalaram no País, no vergonhoso e tráfico período 2019-2022. Por isso, foi acoimado pelas forças da direita até de servir à causa supostamente comunista. Nem a causa era comunista, nem a firmeza da FSP na defesa dos avanços sociais foi duradoura. Talvez influenciada pelos valores proclamados pela Faria Lima, a Folha assume posição ao lado dos que rejeitam a redução da jornada de trabalho, a troca do esquema 6 X 1 pelo 5 X 2. Orientados pelos mesmos interesses dos que testemunharam, em passado ainda não esquecido, a criação do salário mínimo. Quem sabe, dos que também choraram diante da proibição de jornadas diárias menores que 16 horas de trabalho. Adiante, a choradeira repetida quando da criação do 13º salário, a chamada gratificação natalina. Para engrossar o coro dos incomodados com mais esse avanço - apenas mais um, na história da resistência dos conservadores a tudo quanto ao menos ameace reduzir a desigualdade - a FSP vê fantasia na substituição da jornada 6 X 1. Pensamento que se filia, sem dúvida, ao que recomendava o ex-Ministro Delfim Netto, um dos mais entusiasmados subscritores do AI-5. É preciso antes deixar o bolo crescer, para só então dividi-lo. Como na história do cavalo inglês, não importa que a morte decorrente das enfermidades determinadas pela exploração do trabalho humano impeça para muitos o desfrute do benefício que a redução provocaria. Hábitos supostamente superados costumam intrometer-se nas relações sociais, mesmo que sujeitos à crítica dos que enxergam alguns palmos além de seus próprios umbigos e interesses. Recidivas não são apanágio agradável ao processo civilizatório.


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