Rebeldia e esperança

Na última sexta-feira, o PDT decidiu apresentar o que vem sendo chamado pré-candidato à Presidência da República. Sem nenhuma surpresa, houve a homologação em reunião virtual de Ciro Gomes. Certamente não escaparão aos analistas certas peculiaridades típicas das atividades políticas. A alguns poderia parecer surpreendente, até certo ponto açodada, a decisão de pôr o bloco na rua. Considere-se, no entanto, a intensa atividade de vários grupos políticos com o objetivo de criar e ocupar o espaço da chamada terceira via. Logo se poderá atribuir a Ciro mais mesmo que ao PDT, o interesse em não ficar de fora. Ele mesmo, com clareza suficiente, reivindicou para si o papel também desejado por Moro, Dória e outros que começam a cair no esquecimento. A condição de pré-candidato, assim expressa, diz mais do que se poderia imaginar. Em si mesma, a expressão deixa aberta a probabilidade de alteração no quadro sucessório. Nesse caso, sempre será sábio articular uma coisa - o lançamento aparentemente prematuro - com a outra - a condição de pré-candidato. Destaque-se, ainda, a tentativa de apropriar-se da herança de Leonel Brizola, uma liderança tradicionalmente marcada pela coragem pessoal e o vínculo com os segmentos mais pobres da população. Não foram gratuitas, portanto, as menções a muitas das decisões que Brizola gostaria de ter tomado, caso chegasse ao posto desejado por Ciro. A taxação das grandes fortunas, dos lucros e dividendos, também. As críticas a Collor, FHC e o ex-capitão, tanto quanto o apoio explícito da deputada estadual Juliana Brizola, ajudam a animar os defensores da pré-candidatura. Até sua consolidação ou a conquista de espaço em chapa que se revelar mais perto da rampa do Planalto. Não se veja na estratégia do ex-governador do Ceará e Ministro de Itamar e Lula a intenção de fazer de Brizola o Juan Perón dos pampas brasileiros, mas o resgate do lema - esperança rebelde - pode ajudar e manter presente a figura do bravo gaúcho que derrotou a Globo.