Como a pavimentação da BR-319, a dragagem do Rio Madeira surge como a mais nova panaceia. Os interessados nessas alternativas sequer dão ouvidos a outras propostas e sugestões. Não se sabe ainda das razões por que o fazem. Entidades representativas, como a Federação das indústrias do Estado do Amazonas-FIEAM, já mostraram as vantagens do combo modal (flúvio-rodoviário) que usaria Santarém como porto de recepção de produtos que seguiriam pela BR-363 para outras regiões do País. Esse parece assunto superado ou esquecido. Sem que se tenha cabal demonstração de que é alternativa justamente descartada. Agora, a dragagem do rio Madeira é alvo dos interesses e, em consequência, das preocupações. Outros rios já encontram porta-vozes de sua dragagem. Estas, nesse particular aspecto, menores que a extorsão (esta a palavra mais adequada) imposta pelos transportadores de contenedores, como dizem nossos irmãos d’além-mar. Embora enfatizando a condição de cidadão, não a de professor da UFAM e membro da direção da FIEAM, o doutor em Engenharia de Transportes e Logística Augusto César Rocha aponta inconvenientes que não parecem ter sido levados em conta na análise da questão. Mais grave, o estudioso deixa clara a negligência dos que tratam do assunto, quando dispensam a audiência de trabalhos científicos relativos à dinâmica das águas, em especial nesse universo que se diz ser delas. Pelo menos, a verve poética a tem assim considerado e a dinâmica econômica regional a coloca em evidência – desde os chamados tempos áureos da borracha. Os regatões que o digam. O assoreamento que as dragas poderiam reduzir, logo retornará, fazendo de cada interessado bem-intencionado um Sísifo moderno. Os muitos e maléficos exemplos de desrespeito e hostilidade à Ciência ainda não conseguiram alterar o juízo de pessoas presas ao mais abjeto egoísmo. Nestas, o próprio umbigo constitui o centro do Universo. Lá, é que dragagens podem promover sensível melhoria no tratamento dos problemas com que nos havemos, aqui e em todo o Planeta. O professor Augusto César fala do alto de seu conhecimento especializado, motivo este pelo qual possivelmente foi chamado a contribuir com as organizações a que está ligado. Se não é bem assim, pior para ele, para a UFAM e a FIEAM, e, admitamos, para todos os que têm a ver com a produção e o consumo dos produtos elaborados na Amazônia.
PS: Lembrei-me do filme de Gláuber Rocha, O dragão da maldade contra o santo guerreiro. Não encontro santos e a guerra tem outros fins. Mas que há dragas da maldade, não duvido!.
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