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Manobras

Obras e manobras não são apenas uma rima pobre. Umas e outras se ligam por fatores, peculiaridades e vícios nem sempre percebidos. Diversas, e possivelmente contraditórias, as reações ao anúncio de que aumentam as chances da reconstrução do trecho do meio da BR-319 revelam a intimidade entre as duas expressões. Do que é divulgado, dá para chegar a algumas conclusões. Se tudo mudar, ninguém se surpreenda. Afinal, nada é tão sólido que o ar fique impossibilitado de desmanchar. Concluído o trabalho de grupo técnico criado pelo Ministério dos Transportes, sabe-se das 25 condicionantes estabelecidas, para viabilizar a obra. Dentre essas condicionantes, que no ambiente jurídico se tem chamado medidas procrastinatórias ou chicanas, a apresentação do Plano Básico Socioambiental, o Inventário Florestal, o Diagnóstico Socioambiental Participativo, os Programas Básicos Ambientais do Componente Indígena e o Programa de Compensação Ambiental, revisado. O professor Augusto César Rocha, da UFAM e coordenador da Comissão de Logística do CIEAM considera essenciais os condicionamentos impostos pelo Ministério. Ratifica, assim, sua posição sempre serena, quando o assunto é discutido. É, dentre seus pares, dos que se mostram mais sensíveis aos resultados sociais de projetos assemelhados, executados ou em execução. Na Amazônia, mas não apenas nesta Região. Para o laureado cientista Philip Fearnside (INPA) um dos premiados com o Prêmio Nobel, o relatório do grupo quer apenas viabilizar a obra, como o silêncio sobre fenômenos dignos de atenção o revela. Dá exemplos: o desmatamento crescente em Roraima e a abertura de vicinais, entre a BR-319 e Tapauá e Coari. Aqui cabe lembrar ser impossível negar a viabilidade técnica (atentemos para a expressão!) da estrada. Para isso a tecnologia tem resposta pronta. Não é esse, contudo, o cerne da questão. A região em que ela foi originalmente aberta e sucessivamente destruída e invadida, e os que habitam as suas margens e avançam em direção à floresta deve constituir a grande preocupação das autoridades e das populações. Trata-se, portanto, da viabilidade social, humana - humanitária, para usar termo atualíssimo. Ou me engano, ao buscar inspiração em tragédias como as de Mariana, Brumadinho e Rio Grande do Sul, para ficar nas mais emblemáticas? O papel aceita tudo, desde os rabiscos que fizeram a fama de Picasso, Ziraldo e Dali até os belos projetos de Oscar Niemeyer e Burle Marx. Também os compromissos das empresas que levaram às tragédias acima indicadas. Se estamos sob inegável crise ambiental e os riscos nos põem diante de uma tragédia iminente, isso não pode estar fora da cogitação dos que tratam do assunto.

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