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Letras e iletrados

Rodrigo Casarin, colunista do UOL, escreve sobre a recente eleição na Academia Brasileira de Letras. Adverte, sobretudo, para o fato de a ABL só chamar a atenção da sociedade, quando há eleição para o preenchimento de cadeira vaga com a morte de algum imortal. Esse, comentário conclusivo, penso eu, é o corolário das premissas que ele expõe com fundamento e clareza, ao longo de seu texto. Ali, ele mostra o que chama votação acachapante, 35 votos para o filólogo Cavaliere, contra 2 dados a Maurício de Souza, o pai da Mônica e sua turma. Outro candidato, tido por Casarin como um marketeiro do setor hoteleiro, foi ignorado pela unanimidade dos votantes. O colunista do UOL omitiu o nome desse candidato, talvez louvado na máxima de que não se chuta cachorro morto. Em todo caso, e tomando o relato como correspondente à verdade, a própria pretensão do suposto marqueteiro diz muito a respeito da imagem que a sociedade faz da ABL. Mas não inaugura a lista dos pretensiosos. A lista completa dos acadêmicos permitirá observar quanto os ideais dos fundadores, Machado de Assis à frente, vêm sendo desvirtuados. As virtudes literárias têm em muitos casos sido sacrificadas, para atender a outros interesses a que a literatura e as artes são avessas. Há, nos livros onde se assentam os termos de posse da Casa, assinaturas de profissionais que usavam bisturis, não penas ou teclados; e de pelo menos um, cujas mãos eram afeitas a armas, não a instrumentos da escrita. A própria presidência da entidade, hoje, não está nas melhores mãos. Uma observação adicional, que Casarin deixou passar. O beija-mãos (ou lava-pés?) da ABL não é diferente, se comparado com o preenchimento das vagas do STF. A propósito da qualidade literária da obra do quadrinhista Maurício de Souza, julgo-a como julga todo leitor voraz. Se não leio mais a bula dos remédios, que a idade recomenda usar mais frequentemente, é por causa do tamanho das letras. Além de pertencer a uma geração que lia entre um livro de Machado de Assis e outro de Manuel Antônio de Almeida, algumas das aventuras do Cavaleiro Negro, do Saci-Pererê, do Bolão, Reco-Reco e Azeitona, do Fantasma e do Roy Rogers. Todos, lembro ainda, com sabor bem melhor que os livros de marqueteiros e manuais de utilidades eletrônicas. Os autores destes últimos, ninguém duvide, dia destes se candidatarão ao fardão.

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