O que é o 24 de maio de 1884 para o Amazonas e o 13 de maio de 1888 para o Brasil, foi o 02 de fevereiro de 1883 para Itapajé, CE. Nesses locais, nas datas mencionadas, foi decretado o fim da escravização dos pretos. Na cidade cearense, antecipando a cerimônia em que a Princesa Isabel assinou o documento imperial; cinco anos antes do ato lembrado e relembrado e que se tornou a data oficial da república que logo poria a correr a família imperial. No Amazonas, um ano antes. Pode-se considerar a assinatura de Isabel, portanto, apenas a oficialização e generalização do ato que se tem dito libertador. Ainda que imprecisos os limites dessa libertação. Os fatos estão à vista de todos, reduzindo o entusiasmo dos que pensavam dali decorresse vida mais fácil para os pretos e seus descendentes. E os pobres em geral. Não é isso que vem ao caso, agora. Apenas faz-me lembrar certo momento em que o advogado e professor Robério dos Santos Pereira Braga era Presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, lá se vão alguns anos – ou lustros, ou décadas? Também é detalhe pouco enriquecedor do que vou contar. Deu-se que, naquele incerto dia, Robério interrompe com um telefonema meu afazer cotidiano. Convocava-me a ir encontrá-lo na sede do IGHA. Não me fiz de rogado, e não demorei a vê-lo debruçado sobre um livro grande, aberto sobre a mesa, em um dos belos salões do prédio situado na rua Bernardo Ramos. Recebeu-me, dizendo como então, estás aprontando em Manaus desde o século passado? Adivinhando minha curiosidade, não demorou a justificar o motivo da agradável convocação. Na página aberta, apontou as linhas em que se registrava a nomeação pelo Presidente da Província, do juiz municipal ANTÔNIO COLUMBANO SERAPHICO DE ASSIS CARVALHO. A nomeação se deu nos meados dos anos 1870[1]. Daí em diante, alimentei a curiosidade ali germinada. Encontrei, depois, uma nomeação de pessoa com nome igual, para a Chefia de Polícia da Província do Espírito Santo. Outro registro, de fato distante pelo menos uma década da primeira informação, deparo-me com a informação que o texto abaixo transcreve:
O presidente da Sociedade Libertadora de S. Francisco, Dr. Antônio Ferreira de Melo Santiago, disse dos fins da sessão e deu a presidência a José do Amaral, que declina da honra em favor de Felipe Sampaio. Este exige que ela fique com Patrocínio, mas “O Tigre", explicando estar ali "quem dispunha da balança e da espada", o magistrado Antônio Columbano de Assis Carvalho, pede-lhe que aceite a direção dos trabalhos.
A informação acima trata da presença do mesmo juiz, já como titular de igual posto na cidade de Itapajé, CE. Naquele dia, 02 de fevereiro do ano 1883; a sessão por ele presidida concedeu a libertação dos escravos. O Patrocínio mencionado é o grande abolicionista José, chamado “o tigre da abolição”. [2]
A participação em lutas libertárias, portanto, não é privilégio meu, mas vem d’antanho. Nem a mobilidade espacial. COLUMBANO, que nosso pai (um presumível sobrinho-neto dele) dizia ter-nos legado a calva característica dos cinco irmãos que somos, nasceu no Nordeste e de lá veio ter à bacia amazônica. E às margens do Atlântico. Uma lembrança e um registro, para marcar este 13 de maio de 2022.
Comentários