Confesso minha dificuldade para relacionar-me com o dinheiro. Tenho-o apenas como um instrumento de que nos valemos para nivelar, reduzir a um denominador comum as coisas que satisfazem nossas necessidades. Materiais, apenas, se estou tratando de pessoas saudáveis. Há outras, porém, que pensam satisfeitos com o dinheiro outros tipos de necessidade. Por isso, alguns dizem que com ele até amor sincero pode ser comprado. De minha parte, tento traduzir neste terceiro milênio o que disse Santo Basílio, lá se vão 17 séculos. Para o bispo da Antióquia, o dinheiro não é mais que o esterco da sociedade. No mundo de exacerbado consumismo em que vivemos, o dinheiro e seu uso para mim assumem papel simbólico da maior importância. Agnóstico, se admito a existência do diabo, classifico o dinheiro como sua obra-prima. É daí que vem minha estranheza, ao saber que no Município de Borba, no Amazonas, o culto a Santo Antônio contraria o conceito de São Basílio. A imagem do mais remoto dos seguidores de São Francisco, notabilizado pela renúncia à riqueza material, percorre as ruas da cidade ( 42 mil habitantes) metido em traje tecido com cédulas de real. Tenha sido de quem for a ideia, mesmo considerando meu agnosticismo, não me parece adequado fazer do franciscano um garoto-propaganda do esterco denunciado por Basílio.
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