Farsa
- Professor Seráfico
- 10 de abr.
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Admitida a hipótese de constituir farsa a repetição da História, a atual conduta do Presidente dos Estados Unidos da América do Norte não é mais - nem menos - que isso: rematada e brutal farsa. Na verdade, Donald Trump tem trajetória tão manchada por fatos pouco (ou nada) significantes, a ele podendo ser atribuída a condição de culpado, até prova em contrário. Embora não esteja sozinho em lista pouco meritória, Trump se tem destacado pela posição que ocupa no país mais rico e belicoso deste período histórico. Tentar, ao menos, alinhar argumentos que comprovem o caráter guerreiro e abastado da sociedade norte-americana seria chover no molhado. A guerra, mais que a paz, sempre há de interessar a quem dela tira proveito. Em especial, quando escrúpulos morais e preceitos éticos submergem diante dos interesses econômicos, financeiros e políticos. Trump, reconheça-se, não é o primeiro mandatário norte-americano a pensar na construção imperial. Se cabe indicar alguma diferença entre ele e os que o antecederam, o marco divisor tem um nome: a ousadia sem limites que o atual Presidente ostenta. Há quem diga que tal traço do temperamento é próprio dos canalhas. Sem avalizar ou eliminar essa hipótese, apenas penso oportuno e sábio comparar as relações internacionais em dois momentos diferentes. O primeiro deles, no pós-guerra, quando foi semeada a chamada guerra fria, que aos trancos e barrancos manteve a paz no Mundo. Enquanto eram estimulados, armados e financiados conflitos entre irmãos nos vários continentes, a riqueza natural ou a posição estratégica dos países sendo a pedra de toque das decisões imperiais. Agora, mesmo sendo iguais as motivações, as primeiras armas são outras, segundo os apetites que as põem em marcha. Enquanto o império se desmancha, Trump se utiliza do pacote tarifário que pensa transformar em boia capaz de evitar o naufrágio. Mas o caricato presidente sabe dos riscos que corre e pode estar dando o que seria uma última cartada. Vendo-se perdido, que leve junto com ele os que rezam a mesma cartilha - e que se dane o resto! Talvez ele tenha alguma noção do que significa uma estagflação, embora justo julgar que ele pouca atenção dá aos fenômenos e conceitos criados pela mente humana. Da forma como faz seus negócios, resolve os conflitos inevitáveis e governa seu país, o histriônico personagem não ignora - antes valoriza - as armas letais de que dispõe. As mesmas que mataram em Nagasaki e Hiroshima ou, mais modestamente, puseram alguns presidentes e líderes norte-americanos sete palmos abaixo da terra. É verdade que imaginar ter ele estudado a crise de 1929 seria ir longe demais. Aos que são atraídos pelos livros Diário, Caixa, Razão e planilhas eletrônicas que os vêm substituindo, soa como sonata todo pronunciamento do líder decadente. Mas a maioria dos habitantes e governantes tem condições de perceber com mais inteligência o que vai pelo Mundo e como ocorrem as relações internacionais. Poucos, mas ainda os há, os que acreditam nas bravatas de Trump. Pouquíssimos, ainda, os que enxergam luzes promissoras no fim do túnel em que o presidente dos Estados Unidos da América do Norte quer espremer o Mundo. Já não é só da China que pode vir a maior resistência ao tarifaço. A União Europeia, sentindo-se órfã de pai ainda vivo, começa a dar sinais de que não há tanta solidez nas relações com o pretenso dono de todas as terras e de todas as gentes. O BRICS é outra das colunas sobre as quais pode erguer-se o forte que resistirá às investidas do falsário.
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