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Esgar e gargalhada

Os que temos vivido as últimas décadas (no caso do redator, oito) somos privilegiados. Não que tenhamos acumulado fortuna de que nossos sempre parcos ou eventualmente generosos salários o tenha permitido. Ou a reserva de direitos de que não desfruta a maioria da população. Afinal, nem todos estamos em condições de legislar em causa própria, tomar o Erário como propriedade de nossas famílias ou tecer relações promíscuas com os que pensam tudo poder comprar. O privilégio a que me refiro dirige-se à capacidade de, olhos e mentes abertos, sermos capazes de captar a realidade diante de nós, sem peias que nos impeçam de refletir e chegar a alguma conclusão plausível. Mesmo que sujeita à crítica, porque sempre haverá profetas de coisas consumadas à espreita. Assusta-nos a desfaçatez com que são feitas certas cobranças, pela origem delas e pelo histórico que pesa sobre próprias posições e condutas dos seu autores. A realidade acaba por apresentar aspectos que, não fora a tragédia que os reveste, beiram o ridículo. Por isso, não merecem, se não o deboche de uma sonora gargalhada, o sorriso maroto ou o esgar de desdém. Nesse caso, o protagonismo vem da Organização das Nações Unidas, esse órgão que lembra a coragem dos bravateiros, incapaz de exercer-se contra quem tem algum poder. Ao mesmo tempo em que o Estado de Israel soma novas às inúmeras desobediências a determinações da organização, a ONU reclama das condições de segurança que cercam a COP30. É como se o irmão violento e (por isso, e só por isso!) grandalhão ameaçasse o opositor de seu irmão menor, fugindo da raia, logo que o irmão maior ainda do outro chegasse no lugar da briga. Se, ao longo do seu percurso, a sucessora da Liga das Nações se tivesse comportado com a firmeza, a decência e a distância da riqueza e do poder de terceiros, sequer se cogitaria de substituí-la por outra instância em que a Paz e a Humanidade constituíssem o móvel de sua existência. Não sendo isso o que se registra, melhor é dar uma gargalhada. Ou lançar o esgar diante do ridículo. Ou inventar a sucessora da ONU.

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