Deuses diferentes
- Professor Seráfico
- 15 de jan. de 2024
- 2 min de leitura
Comissão Parlamentar de Inquérito é legítimo instrumento de investigação de atos ilegais ou ilegitimos praticados por autoridades públicas. Tal legitimidade é perdida, quando os fundamentos da proposição e criação da CPI estão em desacordo com os fins aos quais se destina esse expediente altamente republicano e democrático. Certamente, não é a inquinação de suposto viés político que poderá desprestigiar qualquer CPI. Órgãos do Poder Legislativo, as comissões criadas para investigar atos ilícitos existem exatamente porque é de política que devem tratar todos os membros do Parlamento, desde as Câmaras Municipais até o Senado. Admita-se, porém, que o declínio da representatividade popular chegou a um ponto em que os oportunistas aproveitam esse fenômeno e tentam impor a não-política. Pobres coitados desprovidos de bons sentimentos e marcados por profunda ignorância, sequer se dão conta de que é o exercício político que pode evitar guerras entre nações e assegurar a paz social. O contrário da política, feita através do debate e do entendimento, é a guerra, tanto quanto a arma é útil a esta, enquanto o argumento é próprio da outra. Assim, a perseguição de alguns vereadores paulistanos que miram o padre Júlio Lancellotti não perde o caráter político, mesmo se constitui enorme distanciamento dos interesses da sociedade. Pelo menos, no que toca a comunidade dos moradores de rua da cidade mais rica da América Latina. Ao que todos os brasileiros sabemos, o sacerdote católico tenta minorar o sofrimento de expressiva parcela dos habitantes de São Paulo, condenada à morte lenta, em grande medida pelo tratamento que lhes dispensa o governo. Orientado pelos valores humanísticos, Lancellotti põe em prática o amor ao próximo alardeado pelos que o combatem, mas raramente executado por eles. O deus cultuado e seguido pelo padre não é o mesmo de que se aproveitam seus perseguidores.
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