Dando ouvidos ao Mouro
- Professor Seráfico
- 9 de abr.
- 2 min de leitura
Importa pouco o que diz grande parte dos críticos de Karl Marx. Esquecidos de que o forte do filósofo alemão era exatamente o conhecimento que ele detinha do processo capitalista, eles se deixam trair por interesses menores ou por opção meramente ideológica. No pior sentido que o termo possa expressar. Reconhecidas as mudanças tecnológicas e sociais por que passou o mundo, desde a morte de Marx (1883), muita água passou sob a ponte, sem conseguirem levar de roldão a maioria das observações fundamentais na análise do pensador judeu. Os dias em curso, mais que em outro qualquer período da História Contemporânea, são pródigos em validar algumas das mais importantes teses do pensamento marxista. E dão transparência a fenômenos geralmente expostos na copiosa obra do Mouro. Nestes tempos em que Donald Trump luta por manter um império ameaçado, sempre valerá a pena trazer à memória algumas das contribuições intelectuais de Marx para a compreensão da sociedade humana. Curiosamente, e contrariamente à pretensão de consumar o que a Hitler foi impossível (um império milenar), o Presidente norte-americano enseja observações e críticas que, a bem da verdade, foram antecipadas pelo mais profundo e radical conhecedor do capital e de sua trajetória. Cumpre destacar, de início, a contradição sem a qual o sistema capitalista ruiria sem ruídos. É essencial a esse modo de relações humanas, a permanente disputa, a controvérsia ininterrupta, para que sobrevivam os mais aptos - aqueles que têm maior oportunidade e capacidade de acumular. Se estivéssemos tratando do reino animal, diríamos sobreviver. Daí a transposição da cadeia alimentar responsável pela sobrevivência dos animais ditos inferiores, para a sociedade dos humanos. Impossível ignorar quanto - e com que voracidade! - os predadores que acumulam se entregam à tarefa de eliminar suas presas. Por isso, é redundante a expressão capitalismo selvagem. Outro (mas não o último) fato que cumpre observar com olhos de analista e isenção diz respeito ao conceito de liberdade assumido pelos acumuladores de capital. Tanto quanto os há defendendo a tortura e o assassinato dos que lhes incomodam, há os que desejam estabelecer medidas que atingem diretamente um tipo de liberdade de que se têm valido e que lhes proporciona melhores resultados - pelo menos, naquele valor que lhes é mais caro, o dinheiro. Aqui, quando não seja motivo para o asco e o vômito decorrente, a imposição de taxas que dificultam o livre comércio internacional , ficará na História como o mais contundente pilar do edifício de contradições construído pelo capitalismo. Aqui é dito muito pouco sobre a malignidade do sistema de exploração que estertora. Esperar que sejam geradas novas Nagasaki e Hiroshima não basta. A guerra, como se sabe, pode ser uma alternativa, tantas as vezes em que ocorreu, para manter a integridade e o vigor - cada dia mais ameaçados - de um sistema econômico de que o egoísmo exacerbado e o conflito permanente são peças fundamentais. Finalmente, a palavra de Isabel Schnabel Dirigente do Banco Central Europeu, de quem não se poderia suspeitar. Ela disse que "o Liberation Day de Trump pode marcar o fim do livre comércio mundial. Vivemos um Liberation Day que não foi libertador, mas que parece marcar o fim do livre comércio global.”
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