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COP 30 – O melhor resultado: Carta Aberta a José Seráfico

14/11/2025


Prezado José Seráfico,


Receba esta carta aberta como gesto de reconhecimento público e, sobretudo, de gratidão. Em um tempo em que o ruído supera a razão, em que a pressa abafa a reflexão e em que o debate ambiental é frequentemente reduzido a slogans, sua voz continua sendo uma das poucas que pensam antes de falar, sentem antes de julgar e compreendem antes de condenar.

Seu artigo recente O melhor resultado— lúcido, firme e incômodo como toda verdade necessária — devolveu à COP30, ao Brasil e ao mundo uma reflexão essencial: a crise climática não é uma crise da natureza, mas sim uma crise da humanidade.

Sua leitura sobre Belém, sobre o planeta e sobre a arrogância que moldou o nosso tempo ilumina um aspecto que raramente encontra lugar nas mesas oficiais: a crise moral que sustenta a crise ambiental. Você relembra que a devastação não é produto do acaso, mas consequência direta de escolhas humanas marcadas por ganância, desigualdade e uma falsa sensação de superioridade sobre as demais formas de vida.

É por isso que seu texto é muito mais que uma análise — é advertência. Não é apenas diagnóstico — é convocação. Não é apenas narrativa — é um ato de cuidado.

Cuidado com a linguagem, com a verdade, com a integridade. Cuidado com a Amazônia e com as gerações que vêm depois de nós. Cuidado com o sentido maior da existência humana neste planeta compartilhado.

Ao afirmar que muitos dos desastres “ditos naturais” carregam a assinatura da ação humana, você devolve profundidade ao debate. Recorda que não basta apontar para o colapso; é preciso compreender a engrenagem que o produz. E essa engrenagem — como você demonstra — está enraizada em valores distorcidos, em estruturas de desigualdade que persistem mesmo diante da inteligência e da tecnologia que proclamamos possuir.

Seu texto honra aquilo que a Amazônia mais precisa: lucidez intelectual e coragem moral. Honra também o legado de pensadores amazônidas que, como você, sabem que a floresta não é apenas cenário, mas sujeito. Não apenas patrimônio, mas princípio de vida. Não apenas território, mas fundamento espiritual e político da nossa sobrevivência.

Por tudo isso, agradecemos. Agradecemos pela clareza que nos devolve. Agradecemos pela gravidade com que trata o que é grave. Agradecemos pelo rigor com que recoloca o homem no seu devido lugar — dentro da natureza, não acima dela.

Agradecemos, sobretudo, por continuar a escrever com o coração crítico e a mente desperta, lembrando a todos nós que não existe futuro sustentável sem revisão ética do presente.

Em nome daqueles que trabalham pela Amazônia, que a estudam, que a defendem, que a vivem, e que não aceitam a mentira confortável do progresso predatório, registramos aqui nosso profundo respeito e reconhecimento.

Com estima, admiração e compromisso,

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*Alfredo LopesBrasil Amazônia AgoraManaus, Amazônia2025editor-geral.




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