Coisas do mercado

O Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul afastou cinco desembargadores. Pesa sobre eles a suspeita de terem vendido sentenças a interessados em processos daquela corte de justiça. Esses não são os primeiros, nem os solitários envolvidos na prática de crimes da espécie. Como eles, encontramos políticos, empresários e ocupantes de cargos públicos igualmente arrolados em processos judiciais semelhantes. Não escapam desse trágico procedimento mães que oferecem suas filhas à saciedade de apetites e taras de quem as pode pagar. Não chega a ser surpreendente o reiterado registro de fatos que tais, algo legitimado pelo que se chama mercado, palco onde se operam, principalmente, a compra e venda do que quer que seja. Antes, limitado às operações comerciais que transferiam a propriedade ou o direito de uso de bens necessários ou supérfluos, o mercado hoje pretende ocupar todo o espaço onde as relações interpessoais são realizadas. Nele, tudo tem um preço, dependente das relações entre oferta e procura. Ora, aos desembargadores denunciados, como às mães, empresários e agentes públicos, não falta discernimento para as oportunidades que a percepção do mercado lhes põe à disposição. Por isso, sentenças, favores sexuais e tantas outras práticas também são objeto do que os especialistas chamam precificação. Se o mercado e seus valores predominam, como evitar que as leis que lhe são próprias valham mais que todas as outras? Não reivindico exclusividade, quanto a ouvir, repetidamente, que todo homem tem seu preço. Porque sei que muitos aguardam o momento de serem precificados, para então revelar seus valores e suas intenções. Outra forma de dizer isso é garantir que quem não puxa saco, acaba puxando carroça. Uma espécie de confissão dos burros convencidos. Não merecem, mesmo, mais que arreios e antolhos.