Carlos Santiago*
Não sei quem irá publicar essas linhas. Talvez ninguém. O patrimonialismo tem lastro e aliados, em especial quando o jornalismo falece numa roda de proteção e de cumplicidade, e as instituições de Estado estão distantes dos princípios republicanos. Deixo apenas um pequeno registro para que no futuro os estudiosos ou os curiosos saibam como funciona a política de hoje
Nas eleições de 2022, prefeitos do Amazonas elegeram seus parentes para os cargos de deputado federal e de deputado estadual. Não faltaram as dobradinhas de familiares nas campanhas eleitorais. E, elas acontecem quando um membro da família se elege para a Câmara dos Deputados e um(a) outro(a) conquista uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado. No Amazonas, as famílias Pinheiro, Câmara e Lins usaram e ainda utilizam essa estratégia eleitoral de poder.
Deputadas estaduais foram eleitas com apoio do esposo e do primo que estavam no comando da administração municipal do município de Parintins e de Coari. Outros prefeitos elegeram os seus irmãos para ALEAM, como foram os exemplos dos gestores de Manaus e de Manacapuru. E o prefeito do município de Itacoatiara ajudou a eleger o próprio filho.
Teve ainda um fato exemplar na história política do povo amazonense: Belarmino Lins, que foi várias vezes deputado estadual, deixou o parlamento depois de décadas, mas articulou suas bases no interior do estado e conseguiu eleger o seu filho para que a família continue com um assento no parlamento do Amazonas.
Aliás, os Lins são craques com experiências quando se trata de espaço de Poder. Estão na Corte do Tribunal de Contas do Estado - TCE/AM, em um cargo de secretário do governo do Estado, na Câmara dos Deputados, no Legislativo Estadual, na Câmara Municipal de Manaus, na superintendência adjunta da Zona Franca de Manaus e até na chapa majoritária preferida do ex-presidente Bolsonaro, em Manaus, na condição de vice. Mas, vamos seguindo...
Agora, haverá eleição municipal. Não faltam parentes de políticos concorrendo ao cargo de legislador do município de Manaus. O irmão da deputada Alessandra Campelo quer a reeleição; a filha do deputado estadual Felipe Souza também busca um novo mandato; o esposo da deputada Joana Darc quer o lugar que já foi da sua companheira na Câmara de Vereadores; o prefeito do município do Careiro Castanho quer emplacar a sua senhora na CMM e o prefeito de Manacapuru quer uma vaga para o seu irmão no parlamento manauara.
Nessa conjuntura de avanço de grupos familiares no espaço do Poder Político e o falecimento do jornalismo independente, o Amazonas e a cidade de Manaus vivem em estado de emergência por conta estiagem e das queimadas, com índices péssimos de pobreza, de violência, na saúde pública e na educação, onde escolas públicas ainda não possuem internet, além de um crescimento populacional sem planejamento e um aterro sanitário funcionando precariamente.
Mas, o futuro pode ser diferente. Na esteira das relações republicanas, apostamos no surgimento de um jornalismo independente e um eleitorado consciente que vote nos interesses coletivos e que negue os de famílias, e que melhore a qualidade da política e dos políticos. Certamente, não estarei presente nesse momento, pois a vida é finita e o mundo segue.
Porém, deixo meu relato dos nossos dias, talvez, piores dias, sem perder a esperança nas mudanças necessárias na construção de um mundo melhor.
**Sociólogo, Cientista Político e Advogado.*
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