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Barão sem fossa

Gosto de ler crônica, esse espécime literário de que João do Rio é um dos precursores e Rui Castro tanto honra. Gosta-se mais ainda do que se lê, quando a matéria discorre sobre experiência semelhante ou correlata com fatos de que fomos testemunhas ou protagonistas. Ou quase. Com a leveza e a informação que lhe são peculiares, o também biógrafo e acadêmico Rui diz dos seus tempos de morador do Solar da Fossa, soterrado pelo Centro Sul. Neste têm passado, desde o início dos anos de 1970, multidões de anônimos. Pelo Solar passou bom número de notáveis artistas brasileiros. Dispenso-me de nomeá-los, porque o biógrafo de Garrincha o faz melhor. Por isso, deve ser lido. Quanto ao Solar, estive a ponto de ocupar uma de suas vagas, em 1967. Quase compunha, lá, a limitada república de que eu e o jornalista Paulo Rehder seríamos os titulares. O saudoso amigo que nunca vi procurava companhia, para repartir as despesas, desfeito um casamento. Amigos comuns, os dois jornalistas Paulo Jerônimo, o Pagê, e José Gorayeb tentavam facilitar a busca de Rehder e a minha. Chegado à cidade ainda maravilhosa, para passar um ano, a primeira porta que se abriu foi a dos dois jornalistas, meus ex-colegas no Jornal do Dia, de Belém do Pará. Moravam com ele, completando o quarteto habitante do baronato (instalado na rua Barão da Torre, 123, edifício Tasmânia), o agrônomo paulista Antônio Ramalho Filho e o geólogo gaúcho Ari Cavedon. Quando voltou de sua viagem à origem, Cavedon decidiu instalar apartamento solo. A mesma situação de Paulo Rehder, por motivos absolutamente contraditórios. Por isso, a fossa de um divergia da fossa do outro. E eu virei barão. Sem título ou tostão. Já nos anos 1970, chegou a Manaus um irmão do saudoso amigo que nunca vi, Jaime Rehder. Nunca mais soube dele, casado que foi com uma conceituada dentista amazonense. Para nós, do Baronato da Torre, ele era o Jaiminho, a despeito da altura.

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