top of page

Anticabano

Ao menos prudência e recato deveriam ser cobrados dos ocupantes de cargos pagos pelo nem sempre respeitável público. Se a discriminação por motivos educacionais, geracionais, étnicos, religiosos é incompatível com a democracia, não o é, se resulta do respeito à ética e à transparência exigida pelo governo que se diz do povo, com o povo e pelo povo. Afinal de contas, o povo deve ter tomado como o verdadeiro e único patrão dos ocupantes de todo e qualquer cargo público. Não – (é bom entender!) -, usada a palavra patrão com sentido igual ao que que significa, nas relações capital/trabalho. Mais, como a expressão de um vínculo de fidelidade ao caráter democrático de governo, qual seja o de delegado da vontade dos mandatários. O mandato relaciona-se à representação política, em que os mandantes são os eleitores. A vontade dos eleitos, assim, não deve ser posta em termos particulares e privados. Nesse caso, a vontade expressa pelo portador do mandato é a dos que o elegeram, não a dele mesmo. Talvez estejamos tratando de um fenômeno meramente ideal, mas não é demais lembrar que se há algum ideal, o mais honesto e digno seria pretendermos um dia vê-lo tornado realidade. Refiro-me à nomeação recente de uma autoridade pública para o setor do meio ambiente, pelo governo do Estado do Pará. Em especial, porque tal designação confronta as circunstâncias em que a nomeação se dá. Como se sabe, em novembro próximo, as atenções do Mundo estarão focadas na COP30, a realizar-se na capital paraense. Momento importante para a formulação de políticas e alianças em prol da saúde do ambiente, em escala internacional, o evento deveria justificar preocupação e cuidados voltados para o êxito das propostas apresentadas pelos protagonistas da reunião. Dando provas do clima surreal que cerca a política brasileira, um caçador de javalis foi nomeado para um posto estratégico na Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará. O novo coordenador do Núcleo Regional de Gestão e Regularidade Ambiental acrescenta às suas descredenciais, o fato de defender a causa dos garimpeiros e ser acusado de extorsão. Pode ser até que as acusações sejam desmentidas pelo Poder Judiciário, a quem cabe julgar ou negar o caráter do crime. Isso, porém, não elimina nem reduz a afronta da autoridade nomeante à prudência e ao recato devidos, em função das responsabilidades dos governantes. Mais que infeliz, a escolha ofende a cidadania dos paraenses, desmentindo o que a Cabanagem representou na história do Pará e do Brasil.


Posts recentes

Ver tudo
Ponto de inflexão

Baldados os esforços de algumas das unidades federativas com PIB mais alto, a COP30 será realizada em Belém. Uma das capitais mais ricas do País, junto com Manaus, no início do século XX, a capital pa

 
 
 
Sugestão oportuna, logo seguida de outra

Interessantes, além de oportunas, as observações feitas pelo engenheiro industrial Samuel Hanan ao jornalista Wilson Nogueira, em setembro deste ano. O ex-vice-governador do Amazonas referiu-se, espec

 
 
 
Passaporte sem restrição

Várias exclamações constam dos depoimentos sobre a capital federal. Do fato de ser mostrada como uma obra de arte de autoria compartilhada entre Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, muito se tem falado e esc

 
 
 

Comentários


bottom of page