Dura muito tempo, desde que a polêmica reconstrução da BR-319 alimentou especulações e interpretações da mais variada inspiração. Ora atendendo à gulosa voracidade de uns; ora servindo a propósitos não mais que demagógicos; ora, ainda, escondendo intenções que falta muito para serem efetivamente conhecidas - o fato é que o assunto tem servido a interesses nem sempre ligados aos sonhos e aspirações das comunidades amazônicas. Mentiras facilmente desmoralizadas - como tem ocorrido - parecem ter-se consolidado ao longo das últimas décadas, ainda que a realidade vista a olho nu traga desenho indesmentível. A invasão de terras públicas, o desmatamento persistente, a mineração predatória, a poluição dos cursos d'água e outras formas de extermínio de que só o animal pretensamente superior é capaz aparentam chegados ao clímax. Não sou eu quem o diz, mas a sociedade científica mundial: o Planeta está morrendo. O processo de extinção é observado e não perdoa, como a História não perdoará, os que concorrem para configurar o que se tem chamado crise ambiental. Em meio à confusão produzida, propositalmente ou não, afinal surge uma opinião próxima de colocar o problema nos seus devidos termos. O Secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Serafim Corrêa, com a autoridade de estudioso das políticas econômicas há tempos praticadas no País, na Amazônia e no Amazonas em particular, na Manaus de que foi Prefeito, tenta mudar o foco do debate. Primeiro, por lembrar que em lugar nenhum o transporte rodoviário é mais econômico que o fluvial. Talvez porque não tenha o hábito de negar realidades comprováveis, Serafim sabe que as maiores e mais importantes civilizações nasceram e se desenvolveram
à margem dos rios. Depois, porque o ex-vereador e ex-deputado considera o fundamento estratégico, aquele a que os estadistas dão importância e tratam com atenção, em lugar das obviedades nem sempre honestas em que incorre grande parte dos interessados no debate. O fato de que vicinais têm sido abertas ao longo do que resta da BR-319, serve para Serafim mostrar a legitimidade de encarar a reconstrução da estrada e os riscos ambientais nela envolvidos. Assim, admitir que tais considerações devem ser valorizadas não é exagero. Antes, é matéria indispensável ao encontro de uma resposta que, a um só tempo, assegure o equilibrio ecológico e o desenvolvimento sustentável deste imenso pedaço do Brasil. Afinal, pela posição que o Secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento ocupa, espera-se que sua voz não se desmanche no vácuo.
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