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Foto do escritorProfessor Seráfico

Trágica ironia

Vejo sempre um toque de ironia, quando leio ou ouço declarações de representantes da elite brasileira sobre as questões econômicas. Aumenta essa sensação, mesmo se o declarante se mostra com a pretensão de ser um analista. Os bons ventos que parecem adivinhar oportunidades de ganhos ou lucros ainda maiores soam como a imagem que viria do esgar próprio ao desdém. O quase-sorriso maroto, pendurado no canto da boca, aquela gozação dos que nunca perderam e parecem ter a certeza de que nunca perderão. Por isso, tudo quanto interessa à maioria dos brasileiros passa ao largo, como se não existisse. Mostram-se pelo menos promissoras e submetidas a premissas obedecidas há décadas, as condições em que operarão os agentes econômicos. Em outras palavras, o ser etéreo e fantasmagórico chamado mercado é propício, tanto quanto puder expandir os negócios, mesmo que a maioria da população esteja excluída do usufruto de qualquer benefício. O trabalho escravo e o suor e o sangue que ele faz escorrer permanecerão intocados, como intocada estará a desigualdade, propositalmente esquecida dos que a produzem e exploram a seu favor. Nada diferente do passado, em alguns casos transferido para muitos séculos atrás. O que transforma a ironia antes mencionada em uma tragédia bem urdida e infensa a qualquer avanço que nos faça alcançar um mínimo estágio de civilização. E de humanidade.

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