Trágica ironia
- Professor Seráfico
- 22 de jun. de 2023
- 1 min de leitura
Vejo sempre um toque de ironia, quando leio ou ouço declarações de representantes da elite brasileira sobre as questões econômicas. Aumenta essa sensação, mesmo se o declarante se mostra com a pretensão de ser um analista. Os bons ventos que parecem adivinhar oportunidades de ganhos ou lucros ainda maiores soam como a imagem que viria do esgar próprio ao desdém. O quase-sorriso maroto, pendurado no canto da boca, aquela gozação dos que nunca perderam e parecem ter a certeza de que nunca perderão. Por isso, tudo quanto interessa à maioria dos brasileiros passa ao largo, como se não existisse. Mostram-se pelo menos promissoras e submetidas a premissas obedecidas há décadas, as condições em que operarão os agentes econômicos. Em outras palavras, o ser etéreo e fantasmagórico chamado mercado é propício, tanto quanto puder expandir os negócios, mesmo que a maioria da população esteja excluída do usufruto de qualquer benefício. O trabalho escravo e o suor e o sangue que ele faz escorrer permanecerão intocados, como intocada estará a desigualdade, propositalmente esquecida dos que a produzem e exploram a seu favor. Nada diferente do passado, em alguns casos transferido para muitos séculos atrás. O que transforma a ironia antes mencionada em uma tragédia bem urdida e infensa a qualquer avanço que nos faça alcançar um mínimo estágio de civilização. E de humanidade.
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