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Sem naturalizar a excrescência*


Leio, pela primeira vez, texto escrito pelo (presumo) professor Hubert Alquères. Consulto o pai dos burros eletrônico, passo a saber que se trata do Presidente da Academia Paulista de Educação, Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, vice-Presidente da Câmara Brasileira do Livro. Se não encontrei menção ao seu exercício no magistério, o fato de ser Diretor do Colégio Bandeirantes sugere incluir tão nobres atividades no seu currículo. Agrada-me, nele, a abordagem de assuntos que também me preocupam e têm provocado alguns dos meus textos. Publicado ontem, o Governabilidade por um fio (portal Metrópoles) analisa as dificuldades que o Presidente Lula tem encontrado, para recuperar um país destruído e reduzido à periferia da comunidade internacional. Pior, uma nação agredida durante todo o quatriênio anterior, em que os próprios governantes tratavam de agir como coadjuvantes da epidemia que matou mais de 700.000 brasileiros. Os resultados das políticas formuladas, defendidas e postas em prática a partir de 2023, começam a mostrar-se, em muitas das áreas que dependem da ação do Estado, inclusive com o registro da redução - pequena embora - no grau de desigualdade, segundo o índice de Gini. Em meio a isso e à condição de quase pleno emprego (ainda que esteja havendo confusão entre emprego e ocupação), Alquères mostra a necessidade de ser superado o clima que impede ação ainda mais efetiva e eficaz do governo, na busca de tornar realidade as promessas de campanha. Aqui é que começam minhas divergências com o colega(?) paulista. A impressão que se tem, ao ler o texto do Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho de Educação de São Paulo, é a de que Lula e seu governo são os responsáveis pelo ambiente político hostil à superação de nossas dificuldades. Dizer que Lula não contribui para a manutenção desse clima seria desonesto. Nem sempre o ex-metalúrgico usa seu talento de negociador, e é nesses momentos que ele colabora com os produtores do caos. Exigir, porém, que o Executivo se curve ou amolde aos maus costumes da maioria que detém mandato nas casas do Congresso, não me parece mais que naturalizar a conduta desses agentes públicos. A análise do desempenho do governo, Lula e todos os que compõem a máquina pública, exige levar em conta a prática de chantagem e de toda sorte de expedientes espúrios, de que dão conta as emendas parlamentares secretas e o PL da Bandidagem. Entre outras manifestações depreciativas do papel dos parlamentares e de seus deveres como delegados da vontade popular. Porque essa é uma realidade, isso não implica torná-la algo natural e admissível, como insinua o texto ora comentado. Melhor seria, segundo meu talvez utópico juízo, chamar a atenção daquela maioria avessa (quando não, hostil) ao mandamento constitucional referente aos objetivos da República Federativa do Brasil. Basta ler o que diz o artigo 3º da Constituição que Ulysses Guimarães chamou cidadã. Constituir uma sociedade livre, justa e solidária ((I); garantir o desenvolvimento nacional (II); erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades nacionais e regionais (III); promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (IV). Eis o que seria razoável, se de Política estamos tratando.

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*Publicado em A Crítica, Manaus, 04/12/2025, p. A4.

 

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