top of page
Foto do escritorProfessor Seráfico

Reviver - de novo

Não, não há redundância

no título desta simples nota

apenas o registro do esquecimento

ou da negligência,

a borracha passada sobre a História,

a vida apagada para sempre

a memória desprezada

como se não houvesse futuro


Esta a razão de, duas décadas vencidas,

retomar a belíssima recomendação de Augusto Boal. É do grande e saudoso teatrólogo o texto transcrito abaixo. A intenção é a de estimular mais uma vez a execução das ações por ele requeridas. Porque vivemos tempos que desejamos ver ultrapassados, e novamente estamos diante de ameaças que é urgente repelir. À resistência!!!


*Augusto Boal*

No dia da posse, devemos decretar a prorrogação da _Primavera_ por quatro anos ininterruptos.

Em todas cidades e em cada povoado, cada um de nós deverá dar vida à sua _Imagem do Sonho_.

O _Projeto Cultural do Governo Lula_ deve resplandecer desde o primeiro dia, desde a posse!

Lula falou contra a fome e a favor da solidariedade dos oprimidos: devemos transformar, em arte, suas palavras. Temos que estetizá-las.

Estetizar significa transmitir pelos sentidos e não apenas pela razão.

Lula falou palavras: temos que mostrá-las como sólidas, palpáveis e beliscáveis.

_Temos que teatralizá-las, pintá-las, esculpi-las, cantá-las, torná-las concretas, fotografáveis, filmáveis._

Como fazer? É muito simples!

_Primeiro:_ em todas as praças de todos os povoados do país inteiro, vamos realizar _Feiras Culturais_ com as quais, desde manhã bem cedo, antes que fuja a noite – desde a primeira luz! – vamos _acordar o sol_ com orquestras, bandas e blocos; pintores e escultores; artistas de circo e teatro, bordadeiras, poetas e repentistas, corais e solistas – ao ar livre, em vielas e descampados, todos em sincronia, nas cidades e nos campos, todos nós, em toda parte, vamos mostrar nossa arte. _Vamos saudar o dia!_

_Segundo:_ em praças e ruas, o povo deve instalar mesas improvisadas, com toalhas limpas e lindas – mesmo que sejam de papel de embrulho, bordadas com tesoura e lápis de cor – para as quais deve trazer pão e comida, e dividi-los com _Amor._

_Terceiro:_ isto é importantíssimo – todos devem estar _comendo_ na hora da posse do Presidente Lula! No ato do juramento, quando ele disser – _“Eu Juro!”_ – todos, no país inteiro, todos ao mesmo tempo, devemos levar à boca alimento, e mastigar com bravura, pois acabar com a fome ele jura: juremos juntos, comendo, juremos o mesmo juramento! O brinde ao seu governo deve ser mastigado com ganas e com verdade.

Devemos ser companheiros – _comer o mesmo pão, coletivo_. Em nossa mão aberta, oferecer, ao _próximo_, comida.

_Quarto_: a população deve dar o que tiver de descartável em suas casas e possa, a outros, ser útil: sapatos, roupas, móveis, espelhos, panelas, livros, quadros, violões e reco-recos, quaisquer objetos que tenham serventia, que saiam do armário e venham todos à luz do dia. _Dar e trocar!_

_Quinto:_ para essas Feiras, devem ser convidadas comunidades estrangeiras que vivam no Brasil, para que tragam sua dança, música, comida – _vamos dialogar._

_Sexto:_ após a posse, em ruas e praças, todos os esportes serão praticados; pingue-pongue, jogo de malha e peteca, bola de gude, pulo de corda e carniça, voleibol, basquete, luta romana e grega, corridas, ginástica, trapézios… _Tudo é Cultura._

_Sétimo:_ em uma tribuna visível, cidadãos terão direito a três minutos de fala para fazerem propostas de governo, que deverão ser levadas a sério, às Câmaras, analisadas, votadas. A sério, que com a lei não se brinca!

Enquanto em Brasília dura a festa, _no Brasil vive a alegria_. Depois, vamos dormir mais cedo: o Dia da Posse será prenúncio e mostra do _Mandato Popular_ – será proclamado o _Dia da Cultura_.

Estamos sonhando, é verdade, e o nosso sonho é sonho. Mas, se hoje sonhamos, é porque temos agora _o direito de sonhar o sonho verdadeiro:_ hoje, sonhar não é proibido: sonhar é possível. Sonhar… não é sonho.

_Sonhemos! 🙌🏽✨💖✨🌻_

_*(Augusto Boal*_ *in memoriam,* _*2002)*_

19 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Rumo à catástrofe

José Alcimar de Oliveira" O trabalho alienado é a mais cruel maldição produzida pelo sistema do capital. Presidido por essa lógica...

E agora, José?

E agora, José? Lúcio Carril* Foi assim que o poema José, de Carlos Drummond de Andrade, ficou conhecido. Virou...

Comments


bottom of page