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Que seja diferente

Como de médico e de louco cada qual tem um pouco, arrisco manifestar-me sobre algumas reações do triPresidente Lula, divulgadas nos últimos dias. De sua incontinência verbal sabe-se faz muito tempo. Se ele não chega a ser aquele que não tem papas na língua, ele está (ou estava?) longe de ser um destrambelhado, como muitos dos protagonistas da cena política brasileira. O trato habilidoso cultivado em sua longa trajetória sindicalista, e característica de seu comportamento durante os dois mandatos anteriores, é por todos reconhecido. Os números relacionados à aprovação dos períodos anteriores dão conta disso. Tais números não vêm sendo confirmados, agora que se esperava o coroamento de uma história reservada aos mais dignos e destacados espaços da historiografia brasileira. Atribuir os abalos no seu prestígio apenas ao uso maciço, leviano e criminoso das fake-news é pouco. Não basta, como é insuficiente apontar para as dificuldades impostas pelos que fizeram de Lula um refém do Presidente da Câmara dos Deputados e seus liderados. Mesmo a forma como o fogo amigo se tem repetido não explica satisfatoriamente sua pequena mas contínua perda de prestígio. Pelo menos no ambiente interno que ele integra. Na política brasileira, para deixar bastante claro. Qual tucunaré atraído e iludido pela colher metálica cintilante, Lula tem acréscimo àqueles fatores outros que cabe a ele - e só a ele, quem sabe Janja também? - administrar. Nesse caso, talvez a situação não se mostraria ameaçadora, se o triPresidente contasse dentre seus mais próximos liderados com aquele (apenas um que fosse) capaz de dizer-lhe o que ele precisa ouvir, se lhe interessa recuperar a adesão e o apoio traduzidos nos excepcionais números registrados quando encerrou seu segundo mandato. Talvez isso esteja faltando em redor de Lula. Daí o exagero das gafes que ele tem cometido, a última delas em flagrante despropósito. Colocar em saia justa o ministro Haddad, um de seus mais fiéis seguidores, não é coisa que se poderia em sã consciência esperar. Afinal, o condutor da economia tem enfrentado, e não raro removido, toda sorte de empecilho e obstáculo postos na pista pelo Parlamento. Da boca de Lula, tão gratificado e reverenciado pelos que fazem do livro arma de seu conhecimento e de sua atuação, a pilhéria dirigida ao seu leal auxiliar, é estranha. Sobretudo, porque desmente suas reiteradas declarações a respeito da educação e dos que, para fazê-la, precisam sobretudo de livros. A declaração ora mencionada, todavia, é apenas mais uma. A ela se juntam outras, capazes de gerar suspeitas, inclusive, de que Lula pode estar com sua saúde comprometida. Oxalá seja suspeita que os fatos posteriores desmentirão.


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