Chegou dezembro e a palavra-chave é solidariedade.
Pessoas e grupos se organizam para ajudar pessoas e grupos que vivem em situação de risco social, vítimas da total exclusão.
Teria a solidariedade uma época, um tempo determinado?
O que mais me parece é que há predominância de um outro sentimento, um tipo de egoísmo cristão em busca da indulgência.
A cesta básica de alimentos, as roupas usadas, as marmitas, a sopa, os brinquedos, tudo vira objeto de purgação, uma catarse coletiva para muitos.
Os gestos de bondade momentânea não são detestáveis e até ajudam quem necessita. O problema é a falta de sentimento pelo outro. Nesse caso, o outro vira ou continua sendo objeto, um instrumento de diminuição dos meus pecados.
A solidariedade dá lugar à hipocrisia e o indivíduo em dívida com o Poderoso se sente mais aliviado.
E aí nos deparamos com mais um problema: jogar com sua própria fé.
O crédulo se dispõe a fazer da dádiva passageira um mimo para seu Deus, como se este fosse tolo ao ponto de se deixar enganar. Ora, trata-se de um jogo perigoso, já que o "homi" tudo vê e tudo sente.
Faço esta abordagem não para ferir sentimentos ou suscetibilidades, mas para pedir solidariedade o ano todo, o tempo todo, a vida toda.
Não precisa transformar o sentimento em objetos materiais. Basta ter respeito pelo outro, olhando-o como ser real, que existe em princípios, tem sensibilidade, amor, direitos, valores.
A solidariedade também pode ser expressa na luta por vida digna para todos e todas. Pode estar na luta contra o preconceito, o racismo, a misoginia, a homofobia, a xenofobia.
Viva a solidariedade. Não faça desse belo sentimento apenas um momento da vida.
Lúcio Carril
Sociólogo
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