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Lembrando maio de 1968


Até os mais desmemoriados ainda guardam consigo as barricadas de maio, em Paris. No já longínquo ano de 1968, vinha da capital da França, suas ruas em ebulição, o grande aviso. O Mundo não poderia ser mais como vinha sendo; nem valeria a pena fazer o retrocesso. Não houve napalm capaz de fragilizar a resistência dos vietnamitas e fazê-los recuar. A garota, o corpo todo em chamas, apareceu em todos os veículos de comunicação respeitáveis do Planeta. A derrota imposta por Ho Chi Min ao arrogante império norte-americano abriu os olhos e os ouvidos dos cidadãos, mundo afora. Abriu, também, as portas por onde passariam as bandeiras mais caras às esquerdas mundiais. Soube-se, a partir dali, da possibilidade de construir outra humanidade. Aquela em que a palavra não basta para caracterizar as relações humanas, demonstrada a necessidade de fazer uma sociedade solidária, menos desigual e mais próxima de pôr em prática a mais sólida fraternidade. As barricadas de Paris, perto de dois lustros antes de encerrada a guerra do Vietnam, dentre tantos outros símbolos, impediram que a lição dos guerrilheiros comandados por Ho Chi Min fosse totalmente esquecida. Quem sabe, até, não terão concorrido para o fracasso de Golias contra Davi?! Não obstante, o capital globalizado esmerou-se em paralisar o progresso, tarefa urgente diante da promessa de que o mundo marcharia para o socialismo. O que se tem visto, então, é impossível obscurecer. Os esforços para fazer do continente europeu uma ilha de sossego e progresso, com o estado de bem-estar social, duraram pouco. As nações centrais da Europa, uma a uma, se foram rendendo à força da globalização feita às avessas do que pregaram Marx e seus mais próximos. O proletários de todo o Mundo, uni-vos! foi ouvido e praticado antes pelas lideranças do patronato. Não demorou, a derrubada do muro de Berlim, a implosão da União Soviética e a absorção pela China de valores eminentemente capitalistas determinaram novos rumos para a História. Também a advertência vinda da terra de Robespierre, Desmoulins, Danton, Montesquieu e Voltaire foi empurrada para a coxia. Os protagonistas das guerras mal-sucedidas passaram ao proscênio. Até que alguém sugerisse a má ideia de que a História acabara. Nem a História acabou, nem o último dos fôlegos do capitalismo se exauriu. Os Estados Unidos da América do Norte, feitos gendarmes do Planeta, trataram de levar adiante sua política opressora, onde quer que se vislumbrasse a oportunidade de maior lucro, sobretudo se as respectivas populações se mostrassem tímidas ou intimidadas. É bom lembrar desses episódios, antes de apresentar qualquer conclusão a respeito da rebeldia dos universitários acampados nas universidades daquele país, nestes dias em que se multiplicam os conflitos bélicos em várias partes do Mundo. Pelo menos uma lição não poderá ser perdida: a de que Lula não está so,zinho, quando formula a ideia de que a democracia é relativa. Se aqui tem-se tornado cada dia mais difícil atentar contra as instituições democráticas, o ço que dá o país governado por Biden como um exemplo de democracia rui antes que a primeira bomba nuclear seja disparada. Mais uma vez, o cavaleiro andante da Mancha traz cor – clara e cristalina – ao ambiente: sempre será preciso muita luta, por um momento de paz. Os estudantes norte-americanos talvez saibam pouco sobre seus antecessores de Paris. Mas a História o sabe.

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